Tuesday, January 31, 2006

Deuses

Finalmente perguntou-me, e nao é importante para ti saber se há algo depois da morte, se existimos?- NAO!. Deixa-me dizer-te uma coisa, meu amigo, depois de morto esta-se muito, mas muito morto. E durante muito tempo. Tempo suficiente para nos entretermos com a morte, tempo suficente para perder à vontade, e conhecimentos (e experiencia) suficientes para responder a todas as questoes, se ainda forem importantes.
Afinal quem é Deus? Um personagem gasoso, sem graça. Um velhote de barbas brancas, distraído e trapalhão. Eu se tivesse deuses tinha sem duvida os de religioes politeistas.
É que ao menos nas religiões politeístas há Deuses malévolos e feios para odiar e para atirar com as culpas; e Deuses simpáticos; deuses com vícios humanos, que se contorcem na fogueira das paixões, que se embebedam e vão às putas e fazem filhos a torto e a direito e que por isso tem a capacidade de compreender o homem, criado à sua imagem.
Há um erro conceptual qualquer em qualquer lado, não há? Parece que o velhote terá feito o mundo em sete dias, ou em seis tendo descansado no sétimo. Não é um pouco apressado? Parece coisa de doente terminal, fazer tudo o mais depressa possível para não corre o risco de não terminar a obra.
Vindo de um personagem perfeito, parece-me que o Homem é uma criação que deixa muito a desejar. Criado à sua imagem, dizem. Mas imperfeito. E não me venham com a autodeterminação da Humanidade e não sei o quê. Aqueles que dizem que sim, que deus criou o homem mas depois deixou ao discernimento do próprio a escolha entre o bem e o mal. Primeiro, se ele criou tudo, se a criação fosse assim tão boa, antes de tudo, não haveria mal. E não quero dizer com "mal" só as más acções, o papão, o Belzebu, falo também das malformações fetais, das alterações genéticas, dos comportamentos desviantes e tudo mais que é incompatível com uma obra realizada por um ser omnipotente.
Por outro lado, que dizer das obras perfeitas que o Homem realizou? Que deus as inspirou, que foi a mão de deus, a grandeza de deus, e sei lá o quê... não me parece. Então deus afinal interfere nas acções dos homens, mas só nas boas, o que é injusto. E é injusto que sendo os homens todos iguais perante deus, uns mereçam milagres e outros não. Que alguns tenham a bênção da saúde, dos bens materiais, do amor, e de tudo o mais. Como compreender que haja outros a morrer de fome, de sede, de tortura, de violência indizíveis, de abusos, como conceber a ideia de deus perante uma criança contorcer-se de dor enquanto luta contra um cancro?
Na minha opinião? Deus não criou o Homem, o Homem criou deus. Por duas razões. Primeiro pela necessidade prática de explicar o desconhecido e segundo pela necessidade ainda maior de se perpetuar, de acreditar que a existência não se esgota na tirania final, absoluta e definitiva do nosso corpo.
Infelizmente vivemos sob a ditadura de uma materialidade que nos arrasta irremediavelmente para a dissolução. Há que aceitá-lo. A consciência desse facto faz-me aproveitar mais os dias, mais as cores, mais a música, mais a arte, mais os cheiros, mais o sol, mais a lua, mais tudo. Faz-me respirar todas as madrugadas e absorver todas as noites e pensar como é bom sentir, pensar, viver. E acreditar no Homem. Não há céu, não há inferno, todo o mal e todo o bem tem origem no Homem. A minha religaiao é a Humanidade.

Sunday, January 29, 2006

Breve.



O vento, às vagas. O mar incerto num rugito constante de procura. O sol timidamente, as ondas, a espuma breve.
Estou em mim, um grão de areia, sou o mundo, construção nérvea, pensamento. Sou a vida toda condensada numa linha invisível que cerze os dias, as emoções e me faz e me constrói. Linha ténue, quase nada. Tudo em mim, Universo, Infinito... e no mundo nada. Linha breve...

Friday, January 27, 2006

Assim...

Assim, doce. Com brilhos húmidos de ternura. Com imensidades delicadas na superficie rosada da memória. Palavras como pétalas de uma flor quase perfeita...

Thursday, January 26, 2006

Las Biaiges dua folhica



Era ua fuolha arrincada
por ua tal rabanada
que bolaba,
rodaba,
beilaba,
mas nun s’assustaba.
L aire assopraba por baixo
i chubie cumo un páixaro
a ua nubre
que l’ancubre
i nun çcubre
adonde se chube.
L aire assopraba po riba
i nun bie por adonde iba,
a rodar,
a gritar,
a chorar:
Ai! Bou-me a matar!
Mas la fuolha era lebica,
parecie ua prumica:
aparaba,
aterraba,
i çcansaba
se naide la pisaba.
As viagens duma folhinha


(Era uma folha arrancada
por uma tal rabanada
que voava,
rodava,
dançava,
mas não se assustava.
Soprava o vento por baixo
e subia como um pássaro
a uma nuvem
que a encobre
e não descobre
onde se sobe.
Soprava o vento por cima
e não via por onde ia,
a rodar,
a gritar,
a chorar:
Ai! Vou-me matar!
Mas a folha levezinha,
parecia uma peninha:
pousava,
aterrava,
e descansava
se ninguém a pisava. )

Fracisco Niebro.
Apresentado na Festa das Línguas promovida pelo Ano Europeu das Línguas no Centro Cultural de Belém, em 28 de Setembro de 2001.

Tuesday, January 24, 2006

Impressoes- Temporal no mar?







(...)
E a vós, pássaros marinhos submarinos
Transatlânticos, oceanos corcéis
Galos de xávega encristados de peixes
Brisas alíseas pentes finos de Leste
Espigas de espuma searas de batéis
Angras de iates horizontais de velas
Almas penadas das antigas caravelas!
A vós, trémulo arco do zodíaco
Sonorizando o violino das viagens!
Invoco como uma planta nascitura
Convoca o fórceps da aragem.

Natália Correia

A Minha Galeria


Estudo II, 61x76cm, Óleo sobre tela, 2005

Monday, January 23, 2006

O tiçao

Uma camioneta velha passava duas vezes por dia no povoado, pigarreando, roncando contrariedades e cansaços. Fazia a ligação entre Bragança e Miranda, por estradas estreitas e sinuosas, cravadas a custo na barriga redonda das montanhas, e que brilhavam ao sol como cicatrizes gigantes e reluzentes. Mas era cara... bo jeira, dar x milreis pela carreira!...
O caminho que se percorria a pé ainda existe. Trilham-se os montes, um após outro, até chegar ao rio Maças. Ali, uma ponte medieval espera placidamente para transpor os viajantes até a outra margem. Depois começa a árdua tarefa de subir os montes do outro lado até a Vila, mais ou menos ao mesmo nivel que a aldeia.
Sendo o caminho tao agreste e a carreira tao cara, a opção que restava para fazer a viagem era arranjar boleia, esperar pacientemente que um carro passasse e o condutor carecesse de companhia para a viagem ou lhe sobrasse a bondade.
Foi isso que um conterraneo fez naquela vez. Esperou junto a saida da aldeia e quando avistou um automovel fez-lhe "alto". O senhor desconhecido, simpatico, parou e ofereceu-se para o levar ate a Vila.
No meio da viagem o condutor sacou de um maço de cigarros e perguntou ao meu conterraneo se se importava que fumasse e aquele, que não, que ele mesmo fumava. O desconhecido ofereceu então um cigarro ao Carçoneiro, que este aceitou de bom grado. Acendeu o cigarro no isqueiro do carro e passou-o cordialmente ao segundo. Após ter vericado o desconhecido a acender o cigarro na superficie rubra da coisa, o meu conterraneo fez o mesmo.
Passado algum tempo, o dono do automóvel preparava-se para fumar um outro cigarro. Verificando que o isqueiro nao se encontrava no lugar habitual, perguntou ao Carçoneiro, desculpe, e o isqueiro, onde é que o pos?
- çqueiro...qual çqueiro? Num bi çqueiro ne'um!
- O isqueiro, aquela coisa que lhe dei para acender o cigarro...
-!!!!! ah!!!!! o TIçAOZICO???? O tiçaozico atirei-o por a jenela! Inda pegaba fogo ao carro!...

Sunday, January 22, 2006

Os melhores amigos



Um artigo no BMJ (British Medical Journal) de 26 de Novembro comentava acerca da importantes aspectos de manter animais de estimação relativamente a um estilo de vida saudável. O artigo enfatizava que a ligação entre dono e animal pode ser tão intensa às verificadas entre humanos e podem conferir benefícios psicológicos semelhantes.
Pesquisas realizadas nos anos 80 popularizaram a ideia que possuir animais aprsenta inúmeros benefícios. tais incluiam maiores taxas de sobrevivência após enfarte do miocardio, redução do risco de asma e renite alérgica em crianças expostas aos alergenos dos animais durante o primeiro ano de vida, melhor saude fisica e psicologica em pessoas idosas e redução das consultas no médico de família.
Alguns potenciais mecanismos foram propostos para explicar estes aparentes benefícios. Co-factores envolvendo personalidade, idade e status economico e de saúde podem ter influencia. A posse de animais pode aumentar a interacção social e ter por isso efeitos indirectos no bem-estar. Além disso, o suporte emocional pode reduzir a percepção de eventos stressantes e proteger contra doenças relacionadas com a depressão. A recuperação após doenças como tromboses, enfarte do miocárdio e cancro podem ainda ser melhoradas.

...talvez por essa razão aqui em casa há mais uma animal... A Dellilah, ali nas fotos!...

Saturday, January 21, 2006

Notas Médicas


Comentários (veridicos) em notas médicas:

1. The patient refused autopsy.
2. The patient has no previous history of suicides.
3. Patient has left white blood cells at another hospital.
4. Note: patient recovering from forehead cut. Patient became very angry when given an enema by mistake.
5. Patient has chest pain if she lies on her left side for over a year.
6. On the second day the knee was better, and on the third day it disappeared.
7. The patient is tearful and crying constantly. She also appears to be depressed.
8. The patient has been depressed since she began seeing me in 1993.
9. Discharge status: Alive but without permission.
10. Healthy appearing decrepit 69-year old male, mentally alert but forgetful.
11. Patient had waffles for breakfast and anorexia for lunch.
12. She is numb from her toes down.
13. While in ER, she was examined, x-rated and sent home.
14. The skin was moist and dry.
15. Occasional, constant infrequent headaches.
16. Patient was alert and unresponsive.
17. Rectal examination revealed a normal size thyroid.
18. She stated that she had been constipated for most of her life,until she got a divorce.
19. I saw your patient today, who is still under our car for physicaltherapy.
20. Examination of genitalia reveals that he is circus sized.
21. The lab test indicated abnormal lover function.
22. Skin: somewhat pale but present
23. Patient has two teenage children, but no other abnormalities.

Friday, January 20, 2006

Impressoes-Estado Liquido






Guardo-me assim, para um dia... Perfume, sangue, licor... Num frasquinho que é o mundo! Em calmas de espelho fluido, em fúrias de torrente. Nao sei ser, só reflectir...

Thursday, January 19, 2006

"Scoba frolida an Agosto…"


(Algumas passagens)

- "Ai!… You nun podie falar!…"
-Diç la nina, mui sentida .
- "I la mie lhéngua soltou-se.
Parece que tengo outra bida!…"
...
-"Andai a bé-la, no Monte,
Beni!… I podereis crer!…
… You, q’era mudica I xorda,
Oubo I falo! … - stais a ber?!…"
...
-"Mas que stranha cousa esta "
-Diç tola giente admirada.
-"Cumo fui isto?… Eras muda,
I agora, falas tan clara?!…"

-" Milagre!…" -Diç tola giente.
- "Que cousa tan d’admirar!…
Scoba frolida an Agosto,
La nina muda a falar!…"
……………
"Scoba frolida an Agosto…" Lienda de Nuossa Senhora de l monte de Dues Eigreijas, de António Maria Mourinho, 1979

Wednesday, January 18, 2006

Pensamento


A tarde adensa-se e tudo o que sou se precipita no meu peito num prenúncio de inflamação. Doem-me as horas. Doi-me a consciência que as sustenta. Doi-me não sei que músculo. Obliquamente. Na orla enviesada dos meus nervos, numa proporcionalidade directa e espessa ao efeito erosivo gotejante do teu corpo no meu pensamento.
Mas é uma dor de antes... De antes de ti ou de qualquer viscosidade temporal. De quando eu me devia ter constrído e olhei só de longe a construção do mundo e dos astros, sem assimilar nenhum átomo que me edificasse de verdades. E agora doi-me.
Porque nos intertícios das coisas palpáveis sou só pensamento e excesso, e aflição. E penso-me para ser alguma coisa, e penso-te para me preencher e existir e pensar que sou mais... mas é tudo uma ilusão...

... não sou além do pensamento. Sou apenas um vapor côncavo esparso de mim...

Tuesday, January 17, 2006

Mirandés

Foto de Emmanuel Binol

Janeiro quemiu l sebo al carneiro,
Febreiro quemiu las pulgas
i Março quedou cun las culpas.

...é como tudo! Uns fazem e desfazem, os outros ficam com as culpas (normalmente os pobres...)

Eleiçoes

As eleições, e sobretudo as campanhas eleitorais, eram um período de intensa actividade em que se desenvolviam ódios mortais que duravam anos, ou apenas até às eleições seguintes. Cada partido tinha áreas "designadas" para se sentar na missa, e locais específicos para fazer compras, mercado, talho e café, conforme a cor do respectivo proprietário.
Os mais interessados seguiam obliquamente pelo rádio ou pela televisão os debates políticos sem no entanto perceber os seus conteúdos ideológicos. Aferiam a qualidade do candidato da sua preferência pela tenacidade e energia do discurso, pela resolução ou hesitação e até pelo tom da voz. Se não deixasse falar o outro tanto melhor, é porque era mesmo muito bom. Não sabiam o que eram ideologias políticas nem tinham a mínima ideia do programa de cada partido ou que tal existia ou sequer que era suposto existir. Por isso, a sábia Madre Igreja tomava a liberdade de orientar correctamente as pobres almas, para que se não perdessem no turbilhão caviloso da liberdade da livre escolha.
Hábil instrumento do antigo regime, encarregada de manter numa esclarecida ignorância os pobres crentes, sob o controlo pesado da ameaça das penas do Inferno, a Igreja continuava a tomar conta das ignaras almas. Do púlpito o Padre orientava as intenções de voto, dizendo que a escolha era entre os defensores da Fé e uma corja de ateus, inimigos da Igreja que tinham de ser derrotados a todo o custo senão ver-nos-íamos enrodilhados num mundo de trevas e de horrores.
Atiçava-se o ódio aos comunistas, aos sindicalistas, a todos os "istas" inconvenientes, embora as pessoas não tivessem a mínima ideia do que ser qualquer uma coisa dessas significava. Creio que imaginavam homens de figura bestial, de olhos sanguinários esbugalhados, o corpo vermelho em toda a extensão, adversos a todos os valores morais e humanos. Rezavam pela conversão da Rússia porque eram mandados. Não sabiam onde o país se localizava e desconheciam qualquer pormenor histórico a elel relativo. Nunca tinham ouvido falar dos Dostoyevskys, dos Tolstois, dos Mayakovskys, dos Pasternaks. Ou dos Rachmaninoffs, dos Tchaikovskys, dos Prokofievs, dos Stravinskys. (A Beleza, para a Igreja, se não aplicada aos santinhos e aos salmos sempre foi um insulto!...). Acreditavam piamente que a felicidade dos ateus se baseava na rendição aos valores que a eles próprios eram impostos.

Monday, January 16, 2006

A Minha Galeria


Estudo I, 61x91cm, Óleo sobre tela, 2005

Sunday, January 15, 2006

Sugestao

Tu, a quem a vida pouco deu
que deste o nada que foi teu em gestos desmedidos.
Tu, a quem ninguem estendeu a mão
e mendigas o pão dos teus sentidos
Homem só, meu irmão.

Tu, que andas em busca da verdade
e só encontras falsidade em cada sentimento
Inventa, inventa amigo uma canção
que dure para além deste momento
Homem só, meu irmão.

Tu, que nesta vida te perdeste
e nunca a mitos te vendeste,
dura solidão!
Faz dessa solidão teu chão sagrado,
agarra bem teu leme ou teu arado,
Homem só, meu irmão.

Luiz Goes

15 de janeiro

Santo Amaro butelheiro,
l die quinze de Janeiro.


(Butelo: enchido fumado, obtido a partir de carne, gordura, ossos e cartilagens, provenientes das partes da costela e coluna vertebral de porco)

Saturday, January 14, 2006

Impressões-Espuma






Nos teus suspiros há ecos de tempestade. Na tua alma líquida a espuma é um abismo transfigurado...

Friday, January 13, 2006

Bordados de Castelo branco




As colchas de linho bordadas com fio de seda natural, conhecidas como bordado de Castelo Branco, de inspiração oriental, que se tornaram conhecidas a partir de meados do século XVI são um produto típico daquela cidade (onde trabalhei durante quase dois anos).
Têm semelhanças com as colchas de Toledo e Guadalupe, na Espanha. Representaram, durante séculos, a dignidade do enxoval de qualquer noiva da região, quer fosse plebeia ou nobre.
Alguns dos elementos destes bordados são o lar e a árvore da vida, os desposados (representados por pássaros juntos), os cravos e rosas representando o homem e a mulher, respectivamente, os lírios, a Virtude, corações para o Amor, gavinhas para a Amizade, entre outros.

Ha viajar e viajar...

Muitas pessoas estão familiarizadas com os riscos de tromboembolismo venoso (TV) associados as viagens de avião. Muitas companhias, sobretudo para as viagens mais longas, aconselham os viajantes a realizar exercicios preventivos. Algumas pessoas, com factorers de risco acrescidos, são aconselhadas a tomar aspirina (75mg) ou mesmo uma heparina de baixo peso molecular nos dias precedentes a viagem.
Recentemente, uma série de estudos financiados pelo Department of Health, o Department of Transport e a Comissão Europeia mostrou que viajens superiores a 4 horas aumentam o risco de tromboembolismo venoso em qualquer meio de transporte.
"Como previamente se suspeitava, é evidente a partir dos estudos epidemiologicos que a imobilidade associada a posição sentada é um factor de risco para TV" concluem os autores. "Estes estudos confirmam que quanto maior for o intervalo de tempo de viagem, maior é o risco".
Por isso, e por causa do cansaço que se acumula principalmente se estiverem a conduzir, façam um favorzito a vos próprios... vão parando pelo caminho para comer umas sandochas de leitão, ou uns pasteis de nata, ou umas cenas quaisquer. Vao até a carruagem-bar do comboio e bebam uma cervejola... ou até ao WC do avião para mandar uma ...mijinha! Tudo serve... mas pela vossa saudinha: MEXAM-SE!!!!!

Thursday, January 12, 2006

...?...

Pavel Filonov

Que posso?...
Ouço o dia descompassado e a pulsação enviesada das minhas veias. Vejo a vida em potência nas vilosidades das horas. Mas tudo é tão longe!

Proverbio-Mirandés

Nun te fies an perro que nun lhadra,
Nin an home que nun fala.



(Nao confies em cao que nao ladra
Nem em homem que nao fala)


(Foto de Miguel Costa)

Wednesday, January 11, 2006

A Minha Galeria


In Memoriam, 110x160cm, Óleo sobre tela, 2003

Hoje seria o seu aniversário. Quem o visse antes da terrível doença o atacar traiçoeiramente, imaginaria que neste e muitos futuros aniversários estivesse cá para os festejar. Alto, de constituição compacta e atlética (apesar o desporto dele fosse tratar das suas oliveiras do Marmeleiro), emanava força e segurança. Os olhos muito verdes e vivos, temperados de bondade e de um brilho matreiro, acentuado por um lábio sorridente. Querido pai Aníbal!
Senhor de um humor inteligente, agudíssimo e contagiante, semeava gargalhadas ao seu redor. Lembro-me como no dia 1 de Abril se entretinha em preaparativos minuciosos (nem que isso significasse levantar-se às 4 ou 5 da manhã) para ir pregar partidas aos amigos mais chegados... o tio Zé Palá caía sempre de uma maneira tão engraçada! Como naquele ano em que o pai se levantou de madrugada, por entre um frio de morte, e foi bater à casa do tio Zé, que os porcos dele tinham saido do curral e revolvido a terra onde havia poucos dias tinham semeado as batatas. O tio Zé, aflito, levantou-se estremunhado, espicaçado pelas palavras acintosas da mulher, saiu em ceroulas a correr para a horta, a gritar impropérios, apenas para ver, sob a luz ainda muito parca, os porco fechados e a horta na sua térrea serenidade, por entre os risos do meu pai. Dizia o tio Zé nessa altura "ah, corno, que num me boltas a apanhar!". Mas voltava, sempre, ano após ano.
Não me lembro de alguma vez o ter visto doente antes. Apenas as habituais constipações, que ele curava com uns bons tragos de aguardente antes de se ir deitar. A doença veio tolher-lhe a vida numa altura em que começava a colher os frutos de uma vida de trabalho e sacrifício, escolhida voluntariamente, para que três filhos pudessem estudar e fugir à maldição da vida de trabalho no campo, ou à única alternativa, à emigração forçada.
Tantas saudades, pai. Lembro-me das tuas palavras, dos teus olhos, do teu sorriso, e às vezes em sonhos, ouço claramente a tua voz... mas é tão pouco! Queria dizer-te tanto, contar-te das coisas, sentir o teu orgulho, ler no canto do teu olho que os sacrifícios valeram a pena!... porque para ti, bem sei, mais que pela tua vida, medias o teu sucesso pela vida dos teus filhos. como ías adorar estar aqui, hoje!...

Este quadro pintei-o depois da sua morte, como homenagem. Nunca poderei agradecer convenientemente, jamais. Apenas lembrá-lo, manter a sua memória quente no meu peito e dedicar-lhe um pouco do tenho de melhor... para ele que acreditava, e que tinha na Nossa Senhora das Graças a ajuda espiritual em momentos difíceis, a imagem da padroeira sobre a aldeia, num quadro doado à igreja em sua memória.


Tuesday, January 10, 2006

Aviso a Navegaçao...

Assuntos urgentes e inadiáveis forçaram-me a uma deslocação ao Luso Reino, durante o fim de semana!... E tão condicionados foram estes dias que, ao contrário do que havia imaginado, não houve oportunidades de vos visitar na interweb!...

Mas enfim, regressada... amanhã as coisas entram na linha... hoje tenho de descansar o lombo destas aventuras imprevistas...

Friday, January 06, 2006

Vitamina D e Cancro

Suplementos diários de 1000UI de vitamina D3 poderao reduzir o risco de incidencia do cancro do cólon, mama, próstata e ovário, a um custo reduzido e com poucos efeitos secundários, de acordo com os investigadores do Moore Cancer Center, Universidade da California, San Diego.
Aqueles investigadores conduziram uma revisão sitemática de 63 estudos observacionais do status da vitamina D em relação ao risco de cancro. Os investigadores concuiram que existe uma relação de protecção entre niveis adequados de vitamina D e risco de cancro.
A revisão tambem enfatizou que a populacção afro-americana, em que se verifica uma maior taxa de mortalidade relacionada com o cancro do cólon, mama, próstata e ovário possuem aproximadamente metade dos niveis sanguineos de vitamina D relativamente aos caucasianos, uma vez que a maior pigmentacao da pele reduz a capacidade de sintese da vtamina D.
Os investigadores afirmam que doses de 1000UI de vitamina D3 (25micrograma) diariamente devem manter niveis sanguineos adequados na maioria das pessoas. Nos EUA, exposicao solar de 15 minutos por dia entre as 11 e as 15 horas, durante o Verão, sob céu limpo, deverá manter niveis equivalentes. No entanto, os investigadores alertam para o facto de, se a exposição solar for usada como fonte de vitamina D, cuidados devem ser tomados de forma a pele não avermelhar.
"O suplemento oral de vitamina D3, em vez da exposicao solar, deve ser utilizada pelas pessoas de pele clara ou sensivel, ou por pessoas que tomam medicamentos que causem fotosensibilidade". Eles acrescentam que, de acordo com a National Academy of Sciences, não ha riscos associados ao consumo de doses diárias de vitamina D até 2000UI.
No entanto, apesar destes estudos, as comunidades medica e de saúde pública ainda não adoptaram o seu uso para a prevenção do cancro. Espera-se orientação face a estes estudos para breve, especialmente da area da Saúde pública.

Por isso, meus caros, pelo sim, pelo não... exposição solar (com moderação!) e consumo apropriado de lacticineos, ovos e óleos de figado de peixe recomendam-se...
Imagem: Winslow Homer

Dous modos de sentir

Roger Tory Peterson

A fazer pula bida
Andaba sin paraige,
La paixarica
Iba i benie
Cun mofos no bico.
Por antre ramaige
Carmenaba,
Filaba,
Urdie i tecie
Un nial amerosico.
Ende
sous uobos ponie
I, passados uns dies,
Sue fertuna
Nacie.
Cumo piedra andadeira,
An cata dun cìnfano,
Ou doutro bechico,
Acarreaba,
Iba e bolbie.
Por nesgas de folhaige
Spreitaba,
Fenhie,
I la bida
crecie.
Apuis de l pelo malo,
L canhuto,
I la pruma
Salie.
Drento dalgun tiempo
L'abe,
Pequerrica,
An suolta biaige
Ansaiaba
Bolos, mais bolos
I sues crias
No mundo ponie
Sacando la suorte
I sonhando siempre
Que l bicho home
L'antenderie.
Mas, antrementes,
Dun ramalhete
Abistou ua formiga
Nun pinzelhete.
L'einocente
Al ir a caçá-la
Fui caçada
Pul gasganete.
La paixarica
Era un resplendor
I cantaba tan bien,
Tan bien,
Que l bicho home,
Esse stepor,
Calhou-le l bico
Al reixenhor.
Apuis disto todo
Quedórun las crias
Chenas d'amargor,
La natureza mais probe,
La giente mais triste
Sin un bun cantador.
Quando ye que l home
Fazerá por ser
Bun antendedor
Tornando l mundo
Un beldre d'amor?

Sara Raposo

Thursday, January 05, 2006

Ser ou nao ser


O que sou e o que sinto são apenas abismos escavados no meu peito. Nada mais. Não há amplitudes sentimentais ou possessivas em que o mundo se retese. Eu sou só eu. Sem a posse circunflexa das certezas, dos afectos ou das coisas. Até do meu corpo. Porque o meu corpo não sou eu. O meu rosto, o meu ventre, os meus membros... um empréstimo atómico hipotecado mil vezes e que a terra reclama! Não sou eu!...
eu sou... ...?... agora que me penso... o que é que eu sou? a consciencia de mim? uma força, um espírito que se lambuzou na tabela periódica para poder espernear?...?...o quê?
E depois de ser, o que serei? Quando o meu corpo se cansar de ser um capricho táctil, quando o tecido uno de mim ceder à lise temporal e se dissolver no Universo. Que?... Nada?
Mas como posso estar aqui agora e ser e ver e doer-me, e amanhã implodir-me de nulidade e não estar, não sentir, toda inflexa ampapada de morte, alheia à viscosidade ontológica que agora me legitima?
...nao digo coisa com coisa (deve haver uma inflamaçao qualquer num membro que nao sei localizar)... vou calar-me. E ouvir o silencio.

A Minha Galeria



Juliano F., Óleo sobre tela, 2004

Wednesday, January 04, 2006

O Ouro e a Alquimia


Durante milénios o ouro inspirou homens, monarcas, exploradores e sonhadores. Culturas como a egipcia, minoica, grega e celta veneravam o ouro e tinham a habilidade de o trabalhar. O ouro é quimicamente inerte e não mancha por exposição ao ar ou na água, mantendo o seu brilho.
A crosta terrestre contém uma média de 5mg de ouro por 1000Kg de rocha, distribuidos em átomos isolados. No entanto processos geológicos complexos podem concentrá-lo em minério suficientemente rico para tornar a extracao economicamente viável.
Para aqueles incapazes de encontrar ou comprar ouro, ou não muito interessados em roubá-lo, a alquimia oferecia um método para enriquecer. A palavra alquimia vem do árabe al khem (do egipto). De facto a prática tem as suas raizes nas culturas antigas egipcia e grega, embora o auge tenha ocorrido entre 800ad e meados do século XVII.
A alquimia fascinava Newton e Carlos II possuia um laboratório de alquimia situado perto dos seus aposentos com acesso através de uma escada privada.
Alguns alquimistas procuraram produzir medicamentos a partir da conjiugação da teoria dos quatro elementos de Aristóteles (ar, fogo, terra e agua), crenças animistas e ideias antigas de que os metais estavam ligados com os planetas com o conhecimento cientifico do tempo.
Embora os alquimistas tenham falhado no seu objectivo, contribuiram com avanços consideráveis nas áreas da Quimica e da Farmácia. A alquimia levou a descoberta de inúmeras reacçoes metálicas, ácidos minerais e álcool.
A alquimia foi desacreditada em meados do Séc. XVII quando Robert Boyle provou que a teoria dos quatro elementos estava errada. É ironico no entanto que hoje em dia a tecnologia moderna seja finalmente capaz de produzir átomos de ouro a partir de elementos mais leves (embora apenas em pequenas quantidades e a um custo exorbitante).
Os chineses foram talvez os primeiros a usar flocos e pó de ouro na medicina por volta de 2500ac. O uso de sais de ouro para o tratamento da lepra data de pelo menos 500ac.
Pomet, o chefe apotecário de Luis XIV em Franca, descreve muitos usos medicinais para o ouro.
Em 1890, descobriu-se que o cianeto de ouro inibia o bacilo da tuberculose in vitro. Esta descoberta levou ao uso de compostos de ouro em 1929 para tratar a artrite reumatóide, uma vez que se acreditava que a doença tinha origem bacteriana. Por volta de 1906, a décima segunda edição do Martindale descrevia o uso de ouro para o tratamento da epilepsia, histeria e enxaqueca bem como, pela sua acção antibacteriana, no tratamento da conjuntivite e sifilis.
Na medicina moderna o ouro tem uma variedade de usos. Tem propriedades anti-inflamatórias e por isso pode suprimir o processo inflamatório verificado na artrite reumatoide por inibição da libertação ou actividade das citoquinas.
Actualmente o ouro está a ser estudado em áreas onde novos desenvolvimentos são urgentemente necessarios, tais como a gripe das aves, cancro, HIV/AIDS e malaria resistente.
A terapia com ouro, ou crisoterapia (o nome vem de Criseia, a filha de Apolo de cabelos dourados) tem uma variedade de efeitos secundários na pelo e nas membranas das mucosas, sangue, sitema cardiovascular e tracto gastro-intestinal.
É por isso que eu prefiro a crisoterapia em forma de brincos ou colares, ou peças de filigrana... estou seriamente a pensar em contrair a gripe das aves e indicar ao médico que tudo o que neccessito para me curar sao uns brincos de princesa e um coração de Viana enorme!...

Tuesday, January 03, 2006

Intimidades- O piano

Imagem: Paul Brent

Quando ontem chagamos a casa, Mr. Big decidiu ir as compras, poupando-me a esse incómodo. Demorou imenso, tanto que comecei a preocupar-me. Finalmente la apareceu, com os sacos do supermercado e um sorriso matreiro (nao é desses que estao a pensar!). Um pensamento obliquo silvou pelo meu cérebro... o que eria desta vez? E ele, que tinha uma prenda, para me animar. Flores, pensei, como as vezes faz. Que ele também podia usar... mau!
Pouco depois, por entre um entusiasmo quase infantil la desvendou a surpresa... entre outras maquinarias pesadas de tecnologia (das quais nem sequer vou falar), trazia-me um teclado! Confesso que saltei de entusiasmo... mas ai! Pensem lá... nao me bastavam tres gatos, a pintura, a costura, o blog, a viola, os mil e um passatempos e agora... uma pianola em casa... O que é que voces fariam? Claro, o mesmo que eu... praticar pelo menos duas horas por dia... vai ter que ser!
Felizmente hoje em dia a tecnologia é compassiva e vem artilhada com toques subtis tais como os auscultadores que impedem o som seu ouvido por terceiros... perfeito. Escuso de torturar os gatos e os vizinhos com a minha inepcia. Os meus dedos matraquiam a custo as teclas, empedernidos e esquecidos das poucas licoes, ha muitos anos. Nao importa... hei-de massacrar tanto o teclado que hei-se aprender alguma coisa... ole se hei-de! Ou nao seja eu filha da minha maezinha!

Impressoes- Cutileiro






João Cutileiro, Grupo Escultórico
Joao Cutileiro tem uma relacao especial com a pedra... as suas esculturas sao dinamicas, energéticas e imbuidas de beleza e elegancia . Um dos meus preferidos. Responsavel pela génese de um bichinho que anda ca a roer-me de maneira insisiva...