Thursday, August 18, 2005

Paixaros- Os cucos

SILVA PORTO, Guardando o rebanho
1893, Óleo sobre tela


Para regar íamos às hortas da Ribeirinha regularmente, eu no lombo da burra Ruça, pelo caminho poeirento que serpenteava no vale, entre o ventre redondo das montanhas. Ao longo do caminho, de um e outro lado viam-se hortas coloridas, pastos, pombais, vinhas, oliveiras, pomares, olmos ao longo do ribeiro, mais acima currais, por todos os campos vacas, ovelhas, burros, mulas. Ouviam-se os motores de rega ecoando pelos montes, vozes de pessoas que cantavam enquanto realizavam os seus trabalhos, os chocalhos das vacas e as campainhas dos rebanhos, o ladrar dos cães que os guardavam e as árias estridentes oferecidas gratuitamente pelas aves canoras.
Quando se ouvia o cuco, consultavam-se-lhe os poderes premonitórios com a pergunta “cuco da Paradinha, quantos anos vou ficar solteirinha?”. A ave ao longe ouvia a pergunta ansiosa e prescrutando o futuro da inquiridora lá respondia. Contavam-se as grasnadelas após a questão e esse número correspondia ao número de anos até ao casamento. Umas das coisas mais aborrecidas deste método era que conforme os dias e os cucos, o número de anos variava e era uma crise de nervos tentar resolver o mistério ditado pelas aves. Não havia regras estabelecidas, fazer a média das diversas leituras era complicado e portanto o mais simples era tomar como certa aquela que referia o menor número.

5 Comments:

Blogger Rosario Andrade said...

Ola Pinto Ribeiro!
Nunca sei se estas a zombar ou a falar a serio...

1:44 PM  
Blogger Rosario Andrade said...

Nesse caso, Obrigada.

Da proxima vez que for a Brighton, tiro umas chapas e publico. Para matares saudades...
Bjo

3:00 PM  
Anonymous Anonymous said...

Vários textos assim e sai um livro de crónicas que não envergonha quem as recorda e alegra quem as lê.

É o regresso a um mundo que os fogos e o despovoamento rural mataram. Hoje, esse mundo, existe apenas na saudade de quem o vuveu.

Já não é pouco, ser depositário dessa memória e transmiti-la.

2:19 AM  
Blogger Rosario Andrade said...

Sr. Carlos Esperanca,
É um prazer enorme recebe-lo neste blogue. E obrigada pelo mui amavel comentario. Volte sempre!!!
Tambem eu acho que as memorias devem ser transmitidas porque infelizmente, as vezes sao tudo o que nos resta de um passado e de uma cultura. Publicarei mais, concerteza, estou a tentar faze-lo mais ou menos na época correspondente, na altura em que as coisas aconteciam (algumas, raras, ainda acontecem)
Cumprimentos.

9:23 AM  
Blogger Rosario Andrade said...

BOM DIA!
Espero que seja... estes ultimos tem sido um inferno. O blogue tem-me ajudado a descontrair. O meu blip apita de dois em dois minutos... Oncologia é um sufoco! (mas é interessante...)
A boa noticia é: amanha voo para Lisboa!!!! Ai, Lisboa!

10:47 AM  

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