Saturday, December 31, 2005

Último dia...

É talvez o último dia da minha vida
Saudei o Sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada.

Alberto Caeiro

Thursday, December 29, 2005

Impressoes do Tempo




Wednesday, December 28, 2005

É preciso acreditar!

Foto de Jean Michel Peers

É preciso acreditar,
É preciso acreditar
que o sorriso de quem passa
é um bem para se guardar
que é luar ou sol de graça
que nos vem alumiar.

É preciso acreditar,
É preciso acreditar
que a canção de quem trabalha
é um bem para se guardar
E não há nada que valha
a vontade de cantar
a qualquer hora cantar.

É preciso acreditar,
É preciso acreditar
que uma vela ao longe solta
é um bem para se guardar
que se um barco parte ou volta
passará no alto mar
E é livre o alto mar.
É preciso acreditar,
É preciso acreditar
Que esta chuva que nos molha
é um bem para se guardar
que há sempre terra que colha
um ribeiro a despertar
para um pão por despertar.

Luiz Goes

Tuesday, December 27, 2005

O fumeiro II

Os chouriços eram mais fáceis de fazer. Com a carne cortada em pedaços adequados, escorrida da água da salga e envolvida em colorau, fazia-se passar pela fulineira, furando com uma agulha qualquer bolsa de ar e obrigando os bocados a aderirem firmemente uns aos outros.
Para fazer os salpicões usava-se uma técnica semelhante, mas sem a fulineira. Eram usadas tripas largas, do intestino grosso ou tripão comprado no mercado, os pedaços de carne de tamanho considerável, eram introduzidos directamente, acondicionados cuidadosamente, entalados uns contra os outros, evitando qualquer bolsa de ar entre eles.
O sangue do porco e as aparas menos vistosas eram usados para fazer os chabianos (chouricos de sangue). O processo de elaboração era semelhante ao das alheiras. O pão fatiado era amolecido com o caldo rico e espesso resultante da cozedura das carnes. Com a adição do sangue obtinha-se uma massa muito escura que servia de base aos dois tipos de chabiano. O primeiro, era um enchido normal comido cozido durante a refeição. O segundo assava-se normalmente no fim da refeição e obtinha-se pela adição de acúcar, mel e amêndoas à massa base.
Os pulmões e a traqueia, cortados em pedaços e misturados com outros bocados de carne eram usados para fazer as Bochas, um enchido muito original, com uma consistência estranhamente esponjosa, que se comia cozido.
Sempre ajudei na elaboração destes enchidos mas os butelos (no centro da fotografia) eram um assunto muito mais sério. Era necessária a experiência de longos anos para adquirir a habilidade que permitia conjugar os ossos -vértebras, costela, rabo - nas tripas, de modo a obter um enchido homogéneo e equilibrado na sua composição. As tripas, estômago, bexiga e murca tinham de ser preparados segundo um processo moroso que requeria grande paciência e dedicação. À medida que o enchido nascia das mãos hábeis da minha mãe, era-lhe dado o destino, "este grandico para comer no dia de Páscoa, este para o dia tal, este para fulano, este para sicrano...".
A medida que eram feitos, os enchidos eram pendurados na tecto da cozinha, por cima da lareira para serem curados. Colocados em varas de um lado a outro, constituíam uma visão multicolorida e reconfortante. Enquanto que os demais tinham uma validade bastante reduzida e eram consumidos nos meses seguintes, os chouriços e os salpicões eram conservados em azeite para o resto do ano. Os presuntos untados em pimentão picante e mantidos em salmoura durante uns meses conservam-se durante muito tempo e alimentavam as famílias durante o resto do ano.

Monday, December 26, 2005

Mirandés- Provérbio

Para o Ano Novo




Quien buôna semiênte sembra,
bun trigo cuôlhe.

(Quem boa semente semeia,
bom trigo colhe)

Humanas alvoradas

Leio o teu nome
Na página da noite:
Menino Deus...
E fico a meditar
No milagre dobrado
De ser Deus e menino.
Em Deus não acredito.
Mas de ti como posso duvidar?
Todos os dias nascem
Meninos pobres em currais de gado.
Crianças que são ânsias alargadas
De horizontes pequenos.
Humanas alvoradas...
A divindade é o menos.
Miguel Torga

Imagem roubada n'O Cavaco"

Friday, December 23, 2005

Piadinha...

O que se teria passado, se, em vez de três Reis Magos, tivessem sido três Rainhas Magas?
- Teriam perguntado como chegar ao local e teriam chegado a horas.
- Teriam ajudado no parto e deixado o estábulo a brilhar.
- Teriam ainda preparado uma panela de comida e teriam trazido ofertas mais práticas.

Mas quais teriam sido os seus comentários ao partirem?
- Viste as sandálias que a Maria usava com aquela túnica?
- O menino não se parece nada com o José!
- Virgem! Pois está bem! Já a conheço desde o liceu!
- Como é que é possível que tenha todos esses animais imundos a viver dentro de casa?
- Disseram-me que o José está desempregado!
- Queres apostar em como não te devolvem a panela?

Thursday, December 22, 2005

Saudacoes Natalicias...

No Natal procedia-se à montagem de um gigantesco Presépio, no interior da igreja. Um pinheiro imenso era sacrificado, elevado e enfeitado para a ocasião. Um estrado na base do mesmo sustentava uma quantidade enorme de musgo, onde se distribuíam as personagens da Natalícia cena. Do conjunto faziam parte várias figuras de tamanho variável, coleccionadas ao longo dos anos. Maria e José eram um casal aparentemente feitos um para o outro, comprados na mesma ocasião por certo. O menino, porque se procedia ao beijar da sua figura no final de todas as Missas celebradas pela altura, era enorme. Os vários animais, uns sem patas, outros sem orelhas ou cornos faziam que pastavam pelo imenso lameiro de musgo.
Os Reis Magos todos os anos ofereciam ao catraio os seus presentes e o restante séquito era constituído por diversas figuras que enchiam o cenário mas que não tinham necessariamente alguma relação com a cena.
A ceia de Natal não era muito diferente das outras. À lareira o pote de ferro cozia o polvo e as batatas, acompanhados de rábanos e couves. Apenas as rabanadas, feitas apenas por esta ocasião, introduziam uma nota de diferença. Pela meia noite celebrava-se a Missa do Galo. Do Galo, não sei porquê. Deve haver um erro qualquer… não há um episódio qualquer com um galo na Páscoa? Um que cantou três vezes ou coisa parecida. Não sei. Mas na noite da Missa dita do Galo perto da igreja acendia-se uma enorme fogueira.
Normalmente os rapazes iam pelo termo procurar enormes troncos abandonados e transportavam-nos para o local e ateavam-nos. O clarão gerado pela fogueira devia ser visível dos diversos pontos da aldeia, como que a assegurar aos participantes da missa que teriam meios de matar o frio antes de entrar no gélido edifício e depois de nele congelar todos os ossos do corpo e todas as fibras da alma.
Saudacoes Natalicias a todos!

Wednesday, December 21, 2005

Mirandés-cantiga (para o almoço)


Tengo giriboilas
Guisadas cun patatas.
Tengo giriboilas
guisadas cum patatas.
Bamos a comé-las
Que son buônas
I baratas.

Tengo giriboilas
Guisadas cun feijones
Bamos a comé-los
Que son buônos i capones.
Bamos a comé-los
Que son buônos i capones.

Xaramago berde
Berde xaramago
Colga la perdiç
I agárra-la pul rabo.
Colga la perdiç
I agárra-la pul rabo.

Impressões... em Azul





Tuesday, December 20, 2005

Eu seja ceguinho!...

Num editorial da publicação Medscape deste mes, o Dr. Sidney Wolfe, Director da Public Citizen's Health research Group, adverte para possiveis efeitos secundários dos medicamentos usados para o tratamento da disfuncção eréctil (Viagra, Cialis e Levitra).
Cinquenta relatórios de Neuropatia isquémica óptica (NIO), resultando em cegueira unilateral irreversivel em homens a tomar aqueles medicamentos, foram recebidos pela FDA (Foos and Drug Administration) até Marco de 2005. Segundo o Dr. Wolfe, a FDA e as companhias minimizaram a causalidade entre os medicamentos e a NIO, indicando, correctamente, que a doença também ocorre em homens que apresentam riscos cardiovasculares e que não tomam estes medicamentos, mas sugerindo que a causa tem a ver com os riscos cardiovasculares e não com os medicamentos.
Aquele médico indicou que, para testar esta hipótese, compararam a taxa de casos de NIO apresentados , por milhao de prescriçoes, naquelas em que o medicamentos Lipitor (Atorvastatina, medicamento usado para controlar os niveis de colesterol. Pertence a uma classe chamada Estatinas, e o seu uso é quase obrigatório em doentes com doencã cardiaca ou com riscos cardiovasculares elevados) e as presciçoes de medicamentos para a disfunção eréctil, presumindo-se que ambos os grupos teriam riscos cardiovasculares acrescidos.
Para o Viagra, verificou-se uma incidencia 18 vezes maior de casos de NIO por milhão de prescricoes do que nos doentes a usar Lipitor e para o Cialis, 25 vezes mais. Assim, segundo o Dr. Wolfe, é muito provável que os medicamentos possam causar cegueira em algumas pessoas. Mais evidencia pode ser vista num case report no qual um doente a usar Cialis sofreu perda parcial da visão pouco depois de tomar a quinta dose. A instituiçao liderada pelo Dr. Wofe está a fazer pressao para que as caixas dos medicamentos portem um aviso relativo a estes riscos.
Ca para mim, o pessoal fica cego por castigo... imagino a D. Felismina a perguntar ao Sr. António "Oh, Toni... tu tens a certeza que não andas a tomar desses medicamentos modernos para... sabes... aumentar a vontade?" e a resposta do Sr. Antonio "Oh, F'lismina, e eu preciso la dessas coisas? Isto é tudo meu... não uso dessas coisas... eu seja ceguinho!

Coraçao vegetal


No meu coraçao vegetal guardo segredos de outros tempos. Nas minhas veias pulsam memórias de tantos Outonos! Mas nas minhas artérias embalo a esperança de uma nova Primavera. Aguardo-a em sossego.

Monday, December 19, 2005

Fumeiro: As alheiras

Depois da matança do porco começava a azáfama de fazer o fumeiro. O pior eram as alheiras. Os preparativos começavam no dia anterior, partia-se o pão em fatias muito finas para uma caldeira enorme de cobre, descascavam-se inúmeras cabeças de alho. As tripas, depois de lavadas, eram cortadas em pedaços de vinte e cinco a trinta centímetros e atadas numa das extremidades.
No dia marcado, muito cedo, era necessário cozer as diferentes carnes, porco, vitela, galinha, pato. Era tudo feito ao lume, usava-se um pote de ferro tradicional, enorme e que só era usado para este efeito. Apesar do tamanho descomunal, a quantidade de carnes era tão grande que eram necessárias várias rodadas para a cozer toda. O caldo resultante, perfumado com ervas e alhos, era forte, oloroso e de um sabor intenso e aveludado.
De seguida desfiavam-se convenientemente as carnes. Esta operação demorava longas horas. Com o caldo fervente amolecia-se o pão, adicionavam-se os alhos moídos, a carne, o azeite quente (algumas pessoas usavam também banha derretida, mas lá em casa gostavamos da opção relativamente mais saudável) e o colorau. Assim se obtinha uma massa untuosa, alaranjada e fumegante.
Procedia-se então ao processo moroso de transferir a massa para o interior das tripas. Para esse efeito usava-se uma fulineira, um utensílio metálico em forma de funil. Introduzia-se a extremidade mais estreita na abertura da tripa, e pela outra empurrava-se a massa até que a alheira surgia corada e arrebitada. Atava-se a abertura com o fio que sobrava da outra extremidade e pronto, ja estava...
Depois restava lavar as alheiras e içá-las ao tecto da cozinha, onde ficariam por alguns dias a secarem por acção do calor e do fumo da lareira.

Sunday, December 18, 2005

A Minha Galeria


Coimbra, Óleo sobre tela (40x50cm), 2005

Como pediste... Coimbra para ti.

Saturday, December 17, 2005

Intimidades: Pensamentos de Inverno



Tenho saudades...
... das águas cristalinas, dos dias amplos e descuidados, do sol excessivo, da luz esguia como suspiros...

Friday, December 16, 2005

Dalai Lama e Neurociencia

Quando a Sociedade de Neurociências dos EU recentemente convidou o Dalai Lama para discursar no seu comgresso anual em Washington, gerou-se considerável controvérsia. No entanto, quando o evento se realizou, a controvérsia desvaneceu-se, de acordo com a revista Science de 18 de Novembro.
Falando para uma audiência estimada em 14000, o lider Budista apresentou a prática da meditação como um modo empirico de investigar os mistérios da mente humana. Inesperadamente, ele afirmou que prefere o método cientifico de questionar para o dogma religioso. Esta abordagem desarmou os mais de 500 cientistas que tinham antes assinado uma petição exprimindo oposição ao facto de o Dalai Lama discursar perante tal assembleia, defendendo que as suas ideias turvariam a distinção entre ciência e religião. Também se suspeitou que a petição tinha origem politica e que os organizadores da dita seriam de origem chinesa e com fortes restriçães a tudo quanto é tibetiano.
O discurso foi o primeiro de uma série de diálogos planeados entre a ciência e a sociedade em geral. O Dalai Lama apelou a uma maior innteracção entre neurociência e as tradiçoes de comtemplação.
Incitou a audiência a trabalhar no sentido de aumentar a felicidade humana descobrindo modos de reduzir as emoçoes negativas e aumentando as positivas.
Alguns cientistas encaram a meditação como controversa porque é parte integrante de diversas religioes e diferentes pessoas têm diferentes definiçoes. No entanto, um psicólogo da Harvard Medical School apresentou um estudo a confirmar diferenças na estrutura cerebral entre individuos que meditam e os que não exercem essa prática. Áreas do cortex associadas com atenção e processamento sensorial apresentavam-se mais volumosas em sujeitos que praticavam meditação durante vários anos do que nos sujeitos não praticantes.
Outro psicólogo considerou que as capacidades mentais conferidas por extensos periodos de meditação podem explicar a percepçao visual.
Uma sessão com muito para pensar!...

Mirandés- Proverbio

Giuseppe Arcimboldo, O Outono


Quien a las onze nun benir
Comerá de l que trair.


(Quem as onze nao vier, comera o que trouxer)

Thursday, December 15, 2005

Impressoes- Reflexos






Quantas vezes vemos a realidade apenas pelos seus reflexos? Apenas por cores dissonantes, pela superficie dos sentimentos, por relatos concavos... e formamos imagens distorcidas, forjamos impressoes que compensam ao espirito a agudeza do perfume da distancia...
Nao é assim com os rostos dos nossos blogamigos?

Wednesday, December 14, 2005

Células estaminais


ARGUMENTOS A FAVOR
Células estaminais embrionárias
- Celulas obtidas a partir de embrioes criados in vitro, que de outro modo seriam eliminados, devem ser considerados sob os mesmo termos morais que celulas obtidas a partir de orgaos doados.
- A fertilizacao in vitro elimina todos os embrioes nao seeccionados, sendo aceitavel nesse dominio que alguns embrioes morram e que apenas um sobreviva. Este é um procedimento comum e com aprovacao ética.
- A decisao de eliminar embrioes é independente de motivos relacionados com a investigacao
- A obtencao de células a partir de embrioes só é decidida depois de a decisao de eliminar os embrioes é tomada.
- As restricoes governamentais apenas levarao a que empresas privadas tomem a dianteira nesta área, fugindo também a regulamentacao.
Clonagem terapeutica
- Os embrioes nao podem ser considerados individuos até sofrerem mais desenvolvimento.
- Possibilidade de se desenvolverem tecidos geneticamente ao doente, prevenindo desse modo rejeicao imunitária
Clonagem reprodutiva
- Possibilidade de eliminar doencas genéticas
- Possibilidade de criacao de animais transgénicos para producao de terapias xenogénicas
- A tecnologia nao deve ser limitada


Entretanto no inicio deste mes foi divulgado o Parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) sobre "Investigação em Células Estaminais".
Do Parecer é de salientar os seguintes pontos:
5. A investigação em células estaminais de tecidos adultos não suscita problemas com a mesma complexidade ética da que é efectuada em células estaminais obtidas por manipulação do embrião e, como tal, deverá ser incentivada. (Como explicado aqui num post recente)
7. As células estaminais obtidas a partir de abortamento espontâneo ou induzido nos termos da lei podem ser fonte de informação científica relevante para a saúde de terceiros pelo que se recomenda o seu uso continuado em investigação.
11. A constituição, por fecundação, de embriões humanos exclusivamente para fins de investigação científica, designadamente para deles se obterem células estaminais é eticamente inaceitável pelo que significa de instrumentalização da vida humana.
12. A destruição de embriões criopreservados com o fim específico de obtenção de células estaminais destinadas a investigação constitui uma instrumentalização contrária à sua dignidade. A colheita de células estaminais de embriões que não é por si própria causa de destruição desses embriões não levanta objecções éticas. O potencial benefício para a humanidade da informação que pode vir a ser gerada pela investigação científica justifica que sejam utilizadas, para tal fim, células estaminais obtidas a partir de embriões retirados de criopreservação por motivos alheios à colheita destas células estaminais".


Imagem retirada daqui

Cegonho


Especialmente para os blogamigos citadinos: cá está, este engenho é um cegonho. Serve para tirar água a pouca profundidade, é constituído por um poste vertical que sustenta uma vara com um balde suspenso de uma extremidade e um peso (costuma ser um pedregulho) na outra.
Desce-se o balde ao poco e maneia-se até o encher. Quando se larga, o contra-peso, por accao da gravidade desce e... o balde sobe! Simples, engenhoso e muito prático!

Tuesday, December 13, 2005

Nicotina

Estao a ser desenvolvidas pela companhias Cytos Biothecnology e Nabii Biopharmaceuticals vacinas para tratar a dependencia da nicotina.
Num estudo realizado com a participacao de 239 voluntários, 42% dos sujeitos que receberam a vacina CYT-002-NicQb da Cytos Biotechnology continuavam o periodo de abstinencia em comparacao com 21% verificado no grupo que recebeu placebo.
A vacina NicVAc da Nabi Pharmaceuticals demonstrou ser segura e bem tolerada, embora os estudos de eficacia tenham ainda de ser realizados.
Foram tambem apresentados no mes passado, os resultados de um estudo com um medicamento, vareniclina (Champix;Pfizer), que demonstraram a sua eficacia no tratamento adjuvante da dependencia da nicotina.
Todas estas opcoes terapeuticas poderao estar brevemente disponiveis para ajudar os consumidores que desejem deixar de fumar.
Dos riscos para a saúde relacionados com o tabaco, por serem extensamente publicitados, nao falarei. Apenas gostaria de referir que, ao contrário do que muita gente pensa, o tabaco nao é só factor de risco para cancro do pulmao ou das vias aéreas. Na verdade, o tabaco é um dos principais factores de risco no desenvolvimento do cancro do colo do útero e em muitos outros (tais como o cancro do pancreas, figado, estomago e bexiga). Esse efeito deve-se ao facto de o fumo rezuzir consideravelmente as células do nosso sistema imunitário que detectam e eliminam as células pré-cancerosas.
Vale a pena pensar nisso. Além disso, meninas, o fumo envelhece!!!!! e deixa manchas muito pouco glamourosas nos dentes e na pele, um halito pouco recomendável e um odor repugnante. A ainda... tem efeitos muito nefastos nas financas. Ja pensaram que se deixarem de fumar, com o dinheirinho equivalente podem POSSUIR um ou dois pares de Manolo Blahnick POR ANO! Ou aquela carteirinha Gucci com que andam a sonhar há anos ou... whatever! Nao importa... qualquer razao é boa para deixar de fumar!

Impressoes- As cores do tempo







O Tempo... há quem lhe chame carrasco. Há quem conte com ele como aliado. Há quem o perca e há quem o queira dominar. Mas ele segue impassivel, indiferente, com barriga cheia de certezas. Vai moldando a nossa existencia e pintando com as suas cores o mundo que nos rodeia...

Monday, December 12, 2005

Matanca do Porco-Mirandes

O conterraneo Frog deixou esta pérola nos comentários:

"Biba la matança del nosso cuchino (cuchino=porco)
qual fim al cabo simpre fui bardino (bardino= mau, mal comportado)

Um pegou nel rabo
Outro unã pata
Yau cum muita furça
Espetei biem la faca

El larego murto (larego =porco novo/murto=morto))
Sim soubir runcar (=sem se ouvir roncar)
Fui buscar um fardo
Para el chamuscar

El fardo arriba del (arriba=em cima)
Lá acabou d arder
Alebanta-se des sulo (=levanta-se do solo)
I ampeça a currer (ampeçar= começar)

Nós chenos de fame (cheno de fame=cheios de fome)
Cum gana de garrotes (cun gana=com vontade)
El de trás a lantre
Na rue als pinotes

La palha estendida
Pra labor las tripas (labor=lavar)
Las ties de zinholos (zinholos=joelhos)
Aguardaban mui aflitas

Al pormo la estaca
Para el culjar
Dão un rudião
Turnou-se à escapar

Pudes fintar-te an mie (=Podes acreditar em mim)
Quisto fui berdade
El raio del cuchino
Tenie létricidade (tenie=tinha)

Bibam las chiças e los presuntos"

E ainda:
Codechicas= codeas
caldico de coibes=caldo verde

Matanca do porco II

Depois de limpo, o porco era suspenso de cabeça para baixo, por meio de uma roldana ou apenas por estacas de madeira. O frio áspero retesava as carnes durante a noite.
No dia seguinte, com a carne enxuta e hirta, procedia-se ao desmanche do animal. Também aqui era dado destino às diferentes partes, presuntos para a salga, costelas para serem fumadas, cabeça para as alheiras, lombos para os salpicões, ossos da coluna e rabo para os butelos, retalhos para os chouriços, sobras para os chabianos.
Havia muito pouco que se não se aproveitasse. Nós não tínhamos o hábito de comer o toucinho mas era normal na maioria das outras casas nem isso escapar. De qualquer modo, guardavam-se os pedaços mais incomestíveis, ou a provisão do ano passado, que entretanto se tornara rançosa, para fazer sabão. Cortava-se o toucinho em pedacinhos, juntava-se soda cáustica e outros ingredientes, e o processo de saponificacao carcomia a gordura e transformava-a num sabao muito branco e com um odor caracteristico.
A gordura do abdómen que protege as vísceras, à qual se dava o nome de “unto”, depois de retesada pela acção do frio de uns dois dias, era cortada em pedaços e fervida. Assim se obtinha a banha que depois se usava para cozinhar durante o resto do ano.
As diferentes partes de carne eram cortadas convenientemente tendo em conta a sua finalidade. Eram então mantidas em água salgada e aromatizada com tomilho, orégãos, louro e muitos alhos, durante dois ou três dias até tomarem o sal. Durante esse tempo, os almoços e jantares consistiam invariavelmente de carne de porco assada. Era uma carne perfumada, suculenta e muito tenra que pingava abundantemente para as brasas e se desfazia na boca com pouco esforço.

Sunday, December 11, 2005

Blogamigos

Ao longo destes meses de percurso na blogosfera tenho encontrado blogonautas que se tornaram presença amiga no dia a dia. A Santa é um deles. O humor com que desfere uma crítica mordaz aos políticos e à sociedade é imperdível. E à mistura...quem diria?... muita arte!
Obrigada ao Blog da Santa pelo carinho e amizade.

A Minha Galeria


Sibila Délfica (Segundo Miguel Angelo), Óleo sobre tela, 2001


Mais um exercício a partir dos mestres... desta vez Miguel Angelo, que gostava de Sibilas musculadas.

Saturday, December 10, 2005

Impressões-Hoje, no Pier







Hoje, no Pier.
Um puto com ar de reguila, cabelo claro espetado, olhos vivos e muito azuis, aí com cinco anos. Veio ter comigo e disse-me educadamente, "Desculpe, perdi-me da minha tia e dos meus primos... pode ajudar-me?" e eu "É claro". "Ja corri tudo e não os encontro... acho que eles foram até à ponta do peer e devem ter caido ao mar! Mas estou a tentar não entrar em pânico!" Disse com uma vozinha soluçante, a fugir quase para o choro. Sorri... "Acho que não deve ter acontecido nada disso, não te preocupes. Tenho a certeza que eles não se vão embora sem ti e vamos encontrá-los". Alex, era o nome dele. Tão lindo... parecia um animalzinho indefeso. "Vamos tentar encontar um policia. Como é a tua tia e os teus primos?". Descreveu-os em pormenor, as idades, as alturas. Dirigimo-nos à entrada, o ponto ao qual eu me dirigiria se tivesse perdido uma criança. E a certa altura a cara dele iluminou-se "Estou a ouvir as vozes deles a chamar-me"... e pronto, lá estavam eles, tal qual ele os descrevera. Correu para eles mas não sem antes me dizer "Thank you!"- "Bye Alex!". Tão engraçadinho e tão esperto!...

Friday, December 09, 2005

The Legend

Durante esta última semana, alguns colegas tem vindo ter comigo, com um misto curiosidade e de orgulho "entao, ouvi dizer que andaste a aterrorizar o Dr. S.". Da primeira vez que alguém me perguntou tive de pensar...what?... mas depois lembrei-me da situacao.
O Dr. S. é um dos Cardiologistas, é um ser pequeno, com uns olhinhos jocosos, agudos e muito azuis e ele sim, nao sei se por mor das falhas da genética em termos de estatura, gosta de se fazer de dificil e esta sempre ou a aterrorizar ou a planear aterrorizar alguém. Por isso é temido e evitado pela maioria do "staff".
Pois bem, nesse dia o Dr. S. prescreveu um medicamento e eu informei a enfermeira que o medicamento nao faz parte do formulario do hospital e como tal, nao seria disponibilizado a nao ser que que o chefe de equipa assinasse um documento a solicitá-lo explicando a razao de o usar quando ha alternativas no formulario.
Marie, a enfermeira, uma matrona de meia idade que gosta de ver o circo pegar fogo, disse "mas olha que foi o Dr. S. que prescreveu!". Respondo "e entao?". "Tenho de o informar que nao enviaras o medicamento, espera aqui". Esperei. Passados uns minutos Marie chega toda gaiteria com um sorrisinho matreiro e levou-me a presenca do dito, na sala de cateterizacao.
Mr. S. mediu-me com os seus olhinhos azuis e depois comeca a debitar as razoes por que quer o medicamento disponivel sempre que ele o quisesse prescrever, que era melhor, melhor perfil e blablabla. Disse-lhe que se o quer diponivel tem de seguiir o processo normal de aprovacao. E ele diz-me que tem estado muito ocupado. Se eu podia falar com o Ian (um dos chefoes) e explicar-lhe a situacao. Respondi-lhe, directamente naqueles olhinhos furuisos, NAO. E ele, que deveria fazer entao? Envie-lhe um mail... sacou duma maquininha curiosa e comecou a ditar o mail para o Ian. Terminou e perguntou-me meio furioso meio divertido "Are you happy now?" e eu respondo, SIM, mas isso nao quer dizer que nao tenha de assinar os documentos ate o medicamento ser aprovado, enviar-lhos-ei! E prontos foi assim, nao aterrorizei nada o homem! Mas conversa foi seguida por tres ou quatro pessoas e foi passando de boca em boca, porque alguem a fazer frente ao Dr. S. é uma raridade, e quando chegou a mim, ja vinha acrescida de diversos floreados... assim se cria uma lenda. Deve haver alguns adjectivos acrecentados ao meu nick name ("glamourous puss"). Vou ver se descubro...

Thursday, December 08, 2005

Mirandés-Pequeno dicionário (D/E/F)

Debelgar- curvar
Delantre- na frente
Dixo-disse
Dous- dois

Eilha-ela
Eirbada- com sensacao de farta
Ende-ai

Fardela- farner (em Carcao usa-se o mesmo termo para designar saco)
Fertir- fritar
Fetiu- pomada caseira para curar os furúnculos
Foucin- pequena foice
Foucenhicos- pequenas foices
Frajones- feijoes
Frezno-freixo
Fulharascas- folhas secas

Foto de Claudia Costa

Wednesday, December 07, 2005

Erros...

Todo nós cometemos erros. Todos nós estamos sujeitos a condições que afectam o nosso estado de atenção e a capacidade de analisar uma situação e de ter a reacção correcta. Stress, sobrecarga, falta de descanso, problemas pessoais... tudo influencia.
Nao sei se foi um desses factores a determinar dois do erros que hoje vi...
O primeiro, coisa simples, estava a fazer aquilo que chamamos o "clinical check" da prescrição de um doente. A certa altura um medicamento prendeu a minha atenção... Bysacodil, II (significa duas unidades, sejam comprimidos , supositorios, inalações, etc) QDS (quatro vezes ao dia). Não tanto o medicamento mas a frequência. O Bisacodyl é um laxante estimulante e normalmente, mesmo em casos extremos, em que é necessária uma limpeza total do intestino, a dose máxima é de 4 comprimidos na noite anterior ao procedimento cirúrgico. Pensei para comigo "bô, alguém quer matar este doente de caganeira"... Após uma pequena investigação nas dotas médicas do doente, desfez-se o mistério... O que o médico pretendia era prescrever Bricanyl... um broncodilatador! Conclusão, não só o doente se ia esfoirar, ficar com os electrólitos todas alterados como ainda se arriscava a ter algum ataque de asma...
O segundo caso... um doente com doença avançada do figado, ao qual foi prescrito Chlorpheniramine 4 mg, um anti-histamínico usado para reduzir o prurido cutâneo causado neste caso pela acumulação de compostos de amónia. Há dois dias contactei a equipa médica e disse-lhes que aquele medicamento nao é apropriado e está contra-indicado em doentes hepaticos. Em vez disso pedi-lhes para prescreverem Cholestiramine 4g, uma espécie de resina que impede a absorção dos tais compostos de amonia. A equipa assim fez. Hoje descobri que os enfermeiros têm estado a dar ao doente exactamente o primeiro medicamento a pensar que é o segundo... então mas nem a dose faz diferença... ai ó meus amigos!