Wednesday, September 07, 2005

As cores do Demo (Crónica)

Foto de Sue Jones

Certo ano o crepúsculo tingiu o céu de um vermelho vivo, a cor do Demónio. Reuniu-se a aldeia em pranto, uns por terem visto e jurado que era o manto de próprio Demo, outros chamados pela urgência do sino que tocava a rebate com um terror redobrado. A notícia espalhou-se como chama em rastilho seco, dirigiram-se todos à igreja, cada um pensando que era chegado o dia do Juízo Final. Rezou-se o Terço, as Avé Marias, a Salve-rainha, o Acto de Contrição, a Ladainha...- Nª. Sra. Do Rosário de Fátima"- lançava em tom resignado o Padre Amândio "Rogai por nós"-respondia o povo amedrontado – "Rogai por mim"- clamava uma velhota, sentindo já nos dedos dos pés o calor cáustico das áscuas que torturam os condenados. Alguém mais esclarecido disse então ao Padre Amândio que não valia a pena tê-los ali subjugados ao medo, que se tratava de um fenómeno natural e passageiro. E o Padre, resignado, que bem sabia, mas que os deixasse na ignorância, se lhes tentassem explicar não entenderiam e era da maneira que estavam na igreja a rezar.

1 Comments:

Blogger Rosario Andrade said...

É, parece que a tradicao ainda é o que era!
Abracicos!

9:44 AM  

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