Eleiçoes
As eleições, e sobretudo as campanhas eleitorais, eram um período de intensa actividade em que se desenvolviam ódios mortais que duravam anos, ou apenas até às eleições seguintes. Cada partido tinha áreas "designadas" para se sentar na missa, e locais específicos para fazer compras, mercado, talho e café, conforme a cor do respectivo proprietário.
Os mais interessados seguiam obliquamente pelo rádio ou pela televisão os debates políticos sem no entanto perceber os seus conteúdos ideológicos. Aferiam a qualidade do candidato da sua preferência pela tenacidade e energia do discurso, pela resolução ou hesitação e até pelo tom da voz. Se não deixasse falar o outro tanto melhor, é porque era mesmo muito bom. Não sabiam o que eram ideologias políticas nem tinham a mínima ideia do programa de cada partido ou que tal existia ou sequer que era suposto existir. Por isso, a sábia Madre Igreja tomava a liberdade de orientar correctamente as pobres almas, para que se não perdessem no turbilhão caviloso da liberdade da livre escolha.
Hábil instrumento do antigo regime, encarregada de manter numa esclarecida ignorância os pobres crentes, sob o controlo pesado da ameaça das penas do Inferno, a Igreja continuava a tomar conta das ignaras almas. Do púlpito o Padre orientava as intenções de voto, dizendo que a escolha era entre os defensores da Fé e uma corja de ateus, inimigos da Igreja que tinham de ser derrotados a todo o custo senão ver-nos-íamos enrodilhados num mundo de trevas e de horrores.
Atiçava-se o ódio aos comunistas, aos sindicalistas, a todos os "istas" inconvenientes, embora as pessoas não tivessem a mínima ideia do que ser qualquer uma coisa dessas significava. Creio que imaginavam homens de figura bestial, de olhos sanguinários esbugalhados, o corpo vermelho em toda a extensão, adversos a todos os valores morais e humanos. Rezavam pela conversão da Rússia porque eram mandados. Não sabiam onde o país se localizava e desconheciam qualquer pormenor histórico a elel relativo. Nunca tinham ouvido falar dos Dostoyevskys, dos Tolstois, dos Mayakovskys, dos Pasternaks. Ou dos Rachmaninoffs, dos Tchaikovskys, dos Prokofievs, dos Stravinskys. (A Beleza, para a Igreja, se não aplicada aos santinhos e aos salmos sempre foi um insulto!...). Acreditavam piamente que a felicidade dos ateus se baseava na rendição aos valores que a eles próprios eram impostos.
Atiçava-se o ódio aos comunistas, aos sindicalistas, a todos os "istas" inconvenientes, embora as pessoas não tivessem a mínima ideia do que ser qualquer uma coisa dessas significava. Creio que imaginavam homens de figura bestial, de olhos sanguinários esbugalhados, o corpo vermelho em toda a extensão, adversos a todos os valores morais e humanos. Rezavam pela conversão da Rússia porque eram mandados. Não sabiam onde o país se localizava e desconheciam qualquer pormenor histórico a elel relativo. Nunca tinham ouvido falar dos Dostoyevskys, dos Tolstois, dos Mayakovskys, dos Pasternaks. Ou dos Rachmaninoffs, dos Tchaikovskys, dos Prokofievs, dos Stravinskys. (A Beleza, para a Igreja, se não aplicada aos santinhos e aos salmos sempre foi um insulto!...). Acreditavam piamente que a felicidade dos ateus se baseava na rendição aos valores que a eles próprios eram impostos.
7 Comments:
Foi sempre assim e te garanto, minha querida, que assim será ad eternum.
O maior ignorante nós sabemos qual é. Estou cansada deste pobo. Acreditas?
Beijo.
Ui, tiu pirata burmeilhico,
... you stou mui murrinhosa! Dolentica... stou em casa a buber chazicos... amigdalite...
Mas tamien stou a pintar (outra rapaza) ...por isso num sinto que me duole tanto.
abracicos!
cada povo é o que é e tem o que merece. Se a Igreja assumiu esse papel foi porque a deixaram; se os homens assumiram certos comandos certas pseudo lideranças foi porque as mulheres deixaram, acataram.
Levam pancada todos os dias, quer olhem para a esquerda ou para a direita e calam-se e toleram, talvez com medo q seja pecado olhar para a frente...
E de vez em quando lá aparece uma q é diferente, que é uma Mulher, que talvez nem vá à Igreja, que não admite a violencia do pai do marido do namorado, que não acata, que se liberta.
Lá em baixo no outro lado do mundo, perto da Patagonia uma Mulher foi eleita Presidenta da Republica. No País que outrora era da Igreja, era fascista, onde só os homens e a violencia imperavam.
Nós por cà ... ficamos à espera!
Felizmente, uma Igreja que nunca conheci.
Não me referi ao povo, Pirata, mas sim ao pobo, essa horda de carneiros que não vê nem quer ver.;)
Rosário amiga,
Antes de mais, votos de rápida recuperação.
Belo texto.
Sobre a campanha actual, em que se fala de presidências abertas, fechadas, de proximidade, poéticas e afastadas, gostaria que lesses o que diz sobre o assunto o Padre António Vieira, ou melhor, Santo António no seu Sermão aos Peixes. :)
Ah, e Vergílio Ferreira também! :)
Bastará clicares no Pólux_Castor deste comentário.
Que belo retrato daquela sociedade, Rosário. Quase senti aqueles olhares e aqueles medos.
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