Pensamento
A tarde adensa-se e tudo o que sou se precipita no meu peito num prenúncio de inflamação. Doem-me as horas. Doi-me a consciência que as sustenta. Doi-me não sei que músculo. Obliquamente. Na orla enviesada dos meus nervos, numa proporcionalidade directa e espessa ao efeito erosivo gotejante do teu corpo no meu pensamento.
Mas é uma dor de antes... De antes de ti ou de qualquer viscosidade temporal. De quando eu me devia ter constrído e olhei só de longe a construção do mundo e dos astros, sem assimilar nenhum átomo que me edificasse de verdades. E agora doi-me.
Porque nos intertícios das coisas palpáveis sou só pensamento e excesso, e aflição. E penso-me para ser alguma coisa, e penso-te para me preencher e existir e pensar que sou mais... mas é tudo uma ilusão...
... não sou além do pensamento. Sou apenas um vapor côncavo esparso de mim...
Mas é uma dor de antes... De antes de ti ou de qualquer viscosidade temporal. De quando eu me devia ter constrído e olhei só de longe a construção do mundo e dos astros, sem assimilar nenhum átomo que me edificasse de verdades. E agora doi-me.
Porque nos intertícios das coisas palpáveis sou só pensamento e excesso, e aflição. E penso-me para ser alguma coisa, e penso-te para me preencher e existir e pensar que sou mais... mas é tudo uma ilusão...
... não sou além do pensamento. Sou apenas um vapor côncavo esparso de mim...
8 Comments:
...não sou alem do pensamneto... nós não somos...
dor antiga, ancestral... haverá fármaco... o amor... a amizade...
jinhos
O amor-próprio, o Amor, a Amizade... sim, são de facto os melhores fármacos.
"Doem-me as horas": frase queme leva até um dos filmes que mais me marcou até hoje, que adoro... precisamente, "As Horas" ("The Hours")!
...é para não se queixarem que só mostro tísicas!...
Ainda estou me casa a recuperar. Antibiotico+ outras cenas. Mas estou a curtir, aproveitei para pintar... ha males que vêm para bem...
Abracicos
Escrita feminina, sensibilidade feminina, inverno masculino e maleita, que é coisa de terminação em A mas bem que podia ser em O.
Valem as palavras e o efeito que produzem a quem lê, depois do prazer da escrita, mesmo que doa.
A memnina do "Estudo I", do dia 16, perdeu a vergonha. Virou-se para o outro lado e agora mostra a cara.
E engordou um bocadinho.
Espero bem que as "dores das horas" sejam só uma fantasia da autora. A Rosário pertence à classe de blogueiras e blogueiros que tenho que visitar todos os dias e, por isso, está proibida de estar doente.
sim. «vapor côncavo»... e no oblíquo músculo desponta a dor que nos acorda e imobiliza.
bjos
Bomita pintura, bonito texto. Parabéns!
Andas muito introspectiva....será a questão de saúde? ou será uma destas duas: -andas com muito tempo para pensar
- estás com excesso de trabalho...
há uma terceira: - não tem nada a ver com nada?
Acho que te deves refastelar tal como a miúda ali em cima a ouvir uma boa música ou a ler um bom livro... é de aproveitar enquanto não se tem filhos...
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