Tuesday, January 31, 2006
Finalmente perguntou-me, e nao é importante para ti saber se há algo depois da morte, se existimos?- NAO!. Deixa-me dizer-te uma coisa, meu amigo, depois de morto esta-se muito, mas muito morto. E durante muito tempo. Tempo suficiente para nos entretermos com a morte, tempo suficente para perder à vontade, e conhecimentos (e experiencia) suficientes para responder a todas as questoes, se ainda forem importantes.
Afinal quem é Deus? Um personagem gasoso, sem graça. Um velhote de barbas brancas, distraído e trapalhão. Eu se tivesse deuses tinha sem duvida os de religioes politeistas.
É que ao menos nas religiões politeístas há Deuses malévolos e feios para odiar e para atirar com as culpas; e Deuses simpáticos; deuses com vícios humanos, que se contorcem na fogueira das paixões, que se embebedam e vão às putas e fazem filhos a torto e a direito e que por isso tem a capacidade de compreender o homem, criado à sua imagem.
Há um erro conceptual qualquer em qualquer lado, não há? Parece que o velhote terá feito o mundo em sete dias, ou em seis tendo descansado no sétimo. Não é um pouco apressado? Parece coisa de doente terminal, fazer tudo o mais depressa possível para não corre o risco de não terminar a obra.
Vindo de um personagem perfeito, parece-me que o Homem é uma criação que deixa muito a desejar. Criado à sua imagem, dizem. Mas imperfeito. E não me venham com a autodeterminação da Humanidade e não sei o quê. Aqueles que dizem que sim, que deus criou o homem mas depois deixou ao discernimento do próprio a escolha entre o bem e o mal. Primeiro, se ele criou tudo, se a criação fosse assim tão boa, antes de tudo, não haveria mal. E não quero dizer com "mal" só as más acções, o papão, o Belzebu, falo também das malformações fetais, das alterações genéticas, dos comportamentos desviantes e tudo mais que é incompatível com uma obra realizada por um ser omnipotente.
Por outro lado, que dizer das obras perfeitas que o Homem realizou? Que deus as inspirou, que foi a mão de deus, a grandeza de deus, e sei lá o quê... não me parece. Então deus afinal interfere nas acções dos homens, mas só nas boas, o que é injusto. E é injusto que sendo os homens todos iguais perante deus, uns mereçam milagres e outros não. Que alguns tenham a bênção da saúde, dos bens materiais, do amor, e de tudo o mais. Como compreender que haja outros a morrer de fome, de sede, de tortura, de violência indizíveis, de abusos, como conceber a ideia de deus perante uma criança contorcer-se de dor enquanto luta contra um cancro?
Na minha opinião? Deus não criou o Homem, o Homem criou deus. Por duas razões. Primeiro pela necessidade prática de explicar o desconhecido e segundo pela necessidade ainda maior de se perpetuar, de acreditar que a existência não se esgota na tirania final, absoluta e definitiva do nosso corpo.
Infelizmente vivemos sob a ditadura de uma materialidade que nos arrasta irremediavelmente para a dissolução. Há que aceitá-lo. A consciência desse facto faz-me aproveitar mais os dias, mais as cores, mais a música, mais a arte, mais os cheiros, mais o sol, mais a lua, mais tudo. Faz-me respirar todas as madrugadas e absorver todas as noites e pensar como é bom sentir, pensar, viver. E acreditar no Homem. Não há céu, não há inferno, todo o mal e todo o bem tem origem no Homem. A minha religaiao é a Humanidade.
Sunday, January 29, 2006
Breve.
O vento, às vagas. O mar incerto num rugito constante de procura. O sol timidamente, as ondas, a espuma breve.
Estou em mim, um grão de areia, sou o mundo, construção nérvea, pensamento. Sou a vida toda condensada numa linha invisível que cerze os dias, as emoções e me faz e me constrói. Linha ténue, quase nada. Tudo em mim, Universo, Infinito... e no mundo nada. Linha breve...
Friday, January 27, 2006
Thursday, January 26, 2006
Las Biaiges dua folhica
Era ua fuolha arrincada
por ua tal rabanada
que bolaba,
rodaba,
beilaba,
mas nun s’assustaba.
L aire assopraba por baixo
i chubie cumo un páixaro
a ua nubre
que l’ancubre
i nun çcubre
adonde se chube.
L aire assopraba po riba
i nun bie por adonde iba,
a rodar,
a gritar,
a chorar:
Ai! Bou-me a matar!
Mas la fuolha era lebica,
parecie ua prumica:
aparaba,
aterraba,
i çcansaba
se naide la pisaba.
As viagens duma folhinha
(Era uma folha arrancada
por uma tal rabanada
que voava,
rodava,
dançava,
mas não se assustava.
Soprava o vento por baixo
e subia como um pássaro
a uma nuvem
que a encobre
e não descobre
onde se sobe.
Soprava o vento por cima
e não via por onde ia,
a rodar,
a gritar,
a chorar:
Ai! Vou-me matar!
Mas a folha levezinha,
parecia uma peninha:
pousava,
aterrava,
e descansava
se ninguém a pisava. )
Fracisco Niebro.
Apresentado na Festa das Línguas promovida pelo Ano Europeu das Línguas no Centro Cultural de Belém, em 28 de Setembro de 2001.
Tuesday, January 24, 2006
Impressoes- Temporal no mar?
(...)
E a vós, pássaros marinhos submarinos
Transatlânticos, oceanos corcéis
Galos de xávega encristados de peixes
Brisas alíseas pentes finos de Leste
Espigas de espuma searas de batéis
Angras de iates horizontais de velas
Almas penadas das antigas caravelas!
A vós, trémulo arco do zodíaco
Sonorizando o violino das viagens!
Invoco como uma planta nascitura
Convoca o fórceps da aragem.
Natália Correia
Monday, January 23, 2006
O tiçao
Uma camioneta velha passava duas vezes por dia no povoado, pigarreando, roncando contrariedades e cansaços. Fazia a ligação entre Bragança e Miranda, por estradas estreitas e sinuosas, cravadas a custo na barriga redonda das montanhas, e que brilhavam ao sol como cicatrizes gigantes e reluzentes. Mas era cara... bo jeira, dar x milreis pela carreira!...
O caminho que se percorria a pé ainda existe. Trilham-se os montes, um após outro, até chegar ao rio Maças. Ali, uma ponte medieval espera placidamente para transpor os viajantes até a outra margem. Depois começa a árdua tarefa de subir os montes do outro lado até a Vila, mais ou menos ao mesmo nivel que a aldeia.
Sendo o caminho tao agreste e a carreira tao cara, a opção que restava para fazer a viagem era arranjar boleia, esperar pacientemente que um carro passasse e o condutor carecesse de companhia para a viagem ou lhe sobrasse a bondade.
Foi isso que um conterraneo fez naquela vez. Esperou junto a saida da aldeia e quando avistou um automovel fez-lhe "alto". O senhor desconhecido, simpatico, parou e ofereceu-se para o levar ate a Vila.
No meio da viagem o condutor sacou de um maço de cigarros e perguntou ao meu conterraneo se se importava que fumasse e aquele, que não, que ele mesmo fumava. O desconhecido ofereceu então um cigarro ao Carçoneiro, que este aceitou de bom grado. Acendeu o cigarro no isqueiro do carro e passou-o cordialmente ao segundo. Após ter vericado o desconhecido a acender o cigarro na superficie rubra da coisa, o meu conterraneo fez o mesmo.
Passado algum tempo, o dono do automóvel preparava-se para fumar um outro cigarro. Verificando que o isqueiro nao se encontrava no lugar habitual, perguntou ao Carçoneiro, desculpe, e o isqueiro, onde é que o pos?
- çqueiro...qual çqueiro? Num bi çqueiro ne'um!
- O isqueiro, aquela coisa que lhe dei para acender o cigarro...
-!!!!! ah!!!!! o TIçAOZICO???? O tiçaozico atirei-o por a jenela! Inda pegaba fogo ao carro!...
O caminho que se percorria a pé ainda existe. Trilham-se os montes, um após outro, até chegar ao rio Maças. Ali, uma ponte medieval espera placidamente para transpor os viajantes até a outra margem. Depois começa a árdua tarefa de subir os montes do outro lado até a Vila, mais ou menos ao mesmo nivel que a aldeia.
Sendo o caminho tao agreste e a carreira tao cara, a opção que restava para fazer a viagem era arranjar boleia, esperar pacientemente que um carro passasse e o condutor carecesse de companhia para a viagem ou lhe sobrasse a bondade.
Foi isso que um conterraneo fez naquela vez. Esperou junto a saida da aldeia e quando avistou um automovel fez-lhe "alto". O senhor desconhecido, simpatico, parou e ofereceu-se para o levar ate a Vila.
No meio da viagem o condutor sacou de um maço de cigarros e perguntou ao meu conterraneo se se importava que fumasse e aquele, que não, que ele mesmo fumava. O desconhecido ofereceu então um cigarro ao Carçoneiro, que este aceitou de bom grado. Acendeu o cigarro no isqueiro do carro e passou-o cordialmente ao segundo. Após ter vericado o desconhecido a acender o cigarro na superficie rubra da coisa, o meu conterraneo fez o mesmo.
Passado algum tempo, o dono do automóvel preparava-se para fumar um outro cigarro. Verificando que o isqueiro nao se encontrava no lugar habitual, perguntou ao Carçoneiro, desculpe, e o isqueiro, onde é que o pos?
- çqueiro...qual çqueiro? Num bi çqueiro ne'um!
- O isqueiro, aquela coisa que lhe dei para acender o cigarro...
-!!!!! ah!!!!! o TIçAOZICO???? O tiçaozico atirei-o por a jenela! Inda pegaba fogo ao carro!...
Sunday, January 22, 2006
Os melhores amigos
Um artigo no BMJ (British Medical Journal) de 26 de Novembro comentava acerca da importantes aspectos de manter animais de estimação relativamente a um estilo de vida saudável. O artigo enfatizava que a ligação entre dono e animal pode ser tão intensa às verificadas entre humanos e podem conferir benefícios psicológicos semelhantes.
Pesquisas realizadas nos anos 80 popularizaram a ideia que possuir animais aprsenta inúmeros benefícios. tais incluiam maiores taxas de sobrevivência após enfarte do miocardio, redução do risco de asma e renite alérgica em crianças expostas aos alergenos dos animais durante o primeiro ano de vida, melhor saude fisica e psicologica em pessoas idosas e redução das consultas no médico de família.
Alguns potenciais mecanismos foram propostos para explicar estes aparentes benefícios. Co-factores envolvendo personalidade, idade e status economico e de saúde podem ter influencia. A posse de animais pode aumentar a interacção social e ter por isso efeitos indirectos no bem-estar. Além disso, o suporte emocional pode reduzir a percepção de eventos stressantes e proteger contra doenças relacionadas com a depressão. A recuperação após doenças como tromboses, enfarte do miocárdio e cancro podem ainda ser melhoradas.
...talvez por essa razão aqui em casa há mais uma animal... A Dellilah, ali nas fotos!...
Pesquisas realizadas nos anos 80 popularizaram a ideia que possuir animais aprsenta inúmeros benefícios. tais incluiam maiores taxas de sobrevivência após enfarte do miocardio, redução do risco de asma e renite alérgica em crianças expostas aos alergenos dos animais durante o primeiro ano de vida, melhor saude fisica e psicologica em pessoas idosas e redução das consultas no médico de família.
Alguns potenciais mecanismos foram propostos para explicar estes aparentes benefícios. Co-factores envolvendo personalidade, idade e status economico e de saúde podem ter influencia. A posse de animais pode aumentar a interacção social e ter por isso efeitos indirectos no bem-estar. Além disso, o suporte emocional pode reduzir a percepção de eventos stressantes e proteger contra doenças relacionadas com a depressão. A recuperação após doenças como tromboses, enfarte do miocárdio e cancro podem ainda ser melhoradas.
...talvez por essa razão aqui em casa há mais uma animal... A Dellilah, ali nas fotos!...
Saturday, January 21, 2006
Notas Médicas
Comentários (veridicos) em notas médicas:
1. The patient refused autopsy.
2. The patient has no previous history of suicides.
3. Patient has left white blood cells at another hospital.
4. Note: patient recovering from forehead cut. Patient became very angry when given an enema by mistake.
5. Patient has chest pain if she lies on her left side for over a year.
6. On the second day the knee was better, and on the third day it disappeared.
7. The patient is tearful and crying constantly. She also appears to be depressed.
8. The patient has been depressed since she began seeing me in 1993.
9. Discharge status: Alive but without permission.
10. Healthy appearing decrepit 69-year old male, mentally alert but forgetful.
11. Patient had waffles for breakfast and anorexia for lunch.
12. She is numb from her toes down.
13. While in ER, she was examined, x-rated and sent home.
14. The skin was moist and dry.
15. Occasional, constant infrequent headaches.
16. Patient was alert and unresponsive.
17. Rectal examination revealed a normal size thyroid.
18. She stated that she had been constipated for most of her life,until she got a divorce.
19. I saw your patient today, who is still under our car for physicaltherapy.
20. Examination of genitalia reveals that he is circus sized.
21. The lab test indicated abnormal lover function.
22. Skin: somewhat pale but present
23. Patient has two teenage children, but no other abnormalities.
Friday, January 20, 2006
Thursday, January 19, 2006
"Scoba frolida an Agosto…"
(Algumas passagens)
- "Ai!… You nun podie falar!…"
-Diç la nina, mui sentida .
- "I la mie lhéngua soltou-se.
Parece que tengo outra bida!…"
...
-"Andai a bé-la, no Monte,
Beni!… I podereis crer!…
… You, q’era mudica I xorda,
Oubo I falo! … - stais a ber?!…"
...
-"Mas que stranha cousa esta "
-Diç tola giente admirada.
-"Cumo fui isto?… Eras muda,
I agora, falas tan clara?!…"
-" Milagre!…" -Diç tola giente.
- "Que cousa tan d’admirar!…
Scoba frolida an Agosto,
La nina muda a falar!…"
……………
"Scoba frolida an Agosto…" Lienda de Nuossa Senhora de l monte de Dues Eigreijas, de António Maria Mourinho, 1979
Wednesday, January 18, 2006
Pensamento
A tarde adensa-se e tudo o que sou se precipita no meu peito num prenúncio de inflamação. Doem-me as horas. Doi-me a consciência que as sustenta. Doi-me não sei que músculo. Obliquamente. Na orla enviesada dos meus nervos, numa proporcionalidade directa e espessa ao efeito erosivo gotejante do teu corpo no meu pensamento.
Mas é uma dor de antes... De antes de ti ou de qualquer viscosidade temporal. De quando eu me devia ter constrído e olhei só de longe a construção do mundo e dos astros, sem assimilar nenhum átomo que me edificasse de verdades. E agora doi-me.
Porque nos intertícios das coisas palpáveis sou só pensamento e excesso, e aflição. E penso-me para ser alguma coisa, e penso-te para me preencher e existir e pensar que sou mais... mas é tudo uma ilusão...
... não sou além do pensamento. Sou apenas um vapor côncavo esparso de mim...
Mas é uma dor de antes... De antes de ti ou de qualquer viscosidade temporal. De quando eu me devia ter constrído e olhei só de longe a construção do mundo e dos astros, sem assimilar nenhum átomo que me edificasse de verdades. E agora doi-me.
Porque nos intertícios das coisas palpáveis sou só pensamento e excesso, e aflição. E penso-me para ser alguma coisa, e penso-te para me preencher e existir e pensar que sou mais... mas é tudo uma ilusão...
... não sou além do pensamento. Sou apenas um vapor côncavo esparso de mim...