(Clicar nos nomes das fotos para as ver individulamente) 21.
Sra das Graças, 22.
Procissão, 23.
No Bar, 24.
ProcissãoA procissão constituía o principal acontecimento religioso das festividades. Depois da missa, que invariavelmente durava um bom par de horas, todos os andores se alinhavam e saíam em cortejo desfilando pelas ruas da aldeia. O andor da principal protagonista era adornado com flores, com fitas de cetim de cores suaves e com parte da extensa colecção de joalharia que a imagem possuía, brincos (sim, brincos!), muitos colares, muitos cordões, muitos medalhões. No dia da sua festa a Senhora tinha que estar bonita, arranjadinha, e tinha de demonstrar a todos, especialmente aos de fora, que não era nenhuma pelintra.
As inúmeras fitas de cetim serviam para os fiéis pagarem as suas promessas. É claro que estas podiam ser pagas em qualquer altura, das mãos da imagem desciam sempre duas destas fitas durante todo o ano, um dos mordomos, geralmente o responsável pela manutenção do altar, tratava de retirar o dinheiro e guardá-lo até ser usado na festa. No entanto, a maior parte das pessoas preferia pagar as suas promessas durante a procissão. Às vezes, para ira de muitos, faziam mesmo o andor deslocar-se do seu percurso normal para poderem colocar o dinheiro das suas próprias varandas. Para não fazer a Senhora perder muito tempo, muitas vezes as familias organizanvam-se de modo a entregar as promessas de uma só vez, na forma de fitas forradas a notas. Quando o andor chegava era só necessário desenrolar a fita à frente da procissão expectante e prendê-la ao andor. Sendo normalemnte as promessas associadas sitações extremas ou a episódios trágicos em que as pessoas recorriam aos favores da Senhora, o seu pagamente estava associado a uma profunda emoção.
No final da procissão especulava-se acerca do valor arrecadado e se o dinheiro seria suficiente para pagar todas as despesas da festa. Era sempre bastante difícil, dependia da valor cambial das diferentes moedas recolhidas (hoje em dia estão as coisas mais simplificadas com a moeda única...). No entanto, sempre se sabia quando uma promessa de grande valor era devida. Vá-se lá saber como, toda a gente tinha conhecimento de que fulano ou sicrano iria pagar nesse ano uma promessa de xis contos. Na posse dessa informação e aferindo mais ou menos o volume das notas do andor depois da procissão (a ronda pela aldeia no Domingo de manhã rendia uma importância mais ou menos constante) os mais entendidos na matéria atreviam-se a estimar um valor.
Se o dinheiro arrecadado não fosse suficiente para cobrir os custos da festa, cabia aos mordomos dividir o que faltava entre eles. Desde que eram nomeados, as preces dos organizadores, todos os ano se orientavam no mesmo sentido, que a Senhora permitisse que as esmolas fossem suficientes para cobrir os custos da celebração...
Hoje em dia continua a ser tudo mais ou menos como dantes. As ruas continuam a ser enfeitadas, há uma competição velada com as aldeias ao redor pela melhor festa, os andores são os
mesmos. Além dos diversos conjuntos musicais que alegram as noites há sempre um artista "principal" no Sábado à noite que chama à aldeia inúmeros forasteiros. A
banda filarmónica continua a chegar no Sábado à tarde, mas agora não vem de longe, Vimioso tem a sua própria banda que toca na maioria das festas da região. Logo a seguir à chegada, os músicos dão a volta à aldeia. Mais tarde nesse dia, tocam na procissão de velas. No dia seguinte, logo após a alvorada de morteiros às sete da manhã, começam a laboriosa tarefa de dar a volta completa à aldeia com os mordomos, para a recolha das esmolas. E nesse mesmo dia, depois do almoço, tocam ainda na procissão da tarde... Não admira que este ano, apesar de uma última actuação estar prevista para Domingo à noite, o Maestro se tenha recusado a submeter os músicos a mais essa prova, devido a ter na formação putos de idade tenra, que não aguentariam a estopada...
Por outro lado, em vez da praça central onde se realizavam os arraiais, há agora uma espécie de "festódromo", onde o piso certinho contrasta com o chão de paralelipipedos de granito anterior e onde há um bar da Comissão de Festas especialmente construido para o efeito.
Uma das outras grandes diferenças é que enquanto há alguns anos a procissão era o evento que rendia mais dinheiro, hoje em dia é o bar a principal fonte de rendimentos. Talvez o tempo das vacas gordas tenha acabado, talvez os emigrantes de hoje tenham hoje outra mentalidade, talvez se passem menos aflições...
De qualquer maneira, a Festa da Senhora das Graças continua a ser o principal marco cultural das gentes de Carção, o evento preferido para a reunião das familias (em detrimento do Natal) , e a única altura do ano em que muita gente visita a aldeia. Por isso, apesar da trágica diminuição da população e a generalizada crise de fé, a Festa continuará seguramente a realizar-se por muitos anos.
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