Os pobres coitados e o Monstro
Quando falei com mãe Joaquina, ela estava quase sem fala. Tinha ido aviar a receita para o medicamento do colesterol e tinha deixado na Farmácia mais de 80 euros (duas caixas, preço ao utente depois do desconto para pensionistas!!!!) ! Eu até estou pasmada!- dizia-Oitenta euros, tu ja viste bem? para o colesterol!
Indignei-me eu também. A estatina em questão existe como genérico e não há razão nenhuma, a não ser secretos e escuros interesses, para alguém dar essa dinheirama toda. Aqui o generico desse medicamento (e mesma dose) custa £3.60! Não sei o preço em Portugal mas não deve andar muito longe disso... um pouco mais elevado, talvez! Creio que da próxima vez que for a Portugal terei de ter uma conversa clinica e civilizada com o médico de familia.
Por outro lado, leio nos dados oficiais do Department of Health que a prescrição de genéricos na época 2005-2006 em Inglaterra foi de 81%! Enquanto no nosso triste pais se insiste na (conveniente) dúvida sobre os genéricos, aqui pensa-se em estratégias para aumentar ainda mais a percentagem de prescrição dos mesmos.
Note-se que a prescrição de genéricos não pode atingir os 100%, uma vez que há medicamentos que possuem diferentes bioabilidades, isto é, há um pequeno número de medicamentos (teofilina, nifedipina, diltiazem, etc) cujas diferentes marcas têm diferentes caracteristicas e mudar entre eles provoca diferentes niveis do principio activo no sangue. Há ainda outros medicamentos, tais como os usados para as doenças inflamatórias do intestino que possuem caracteristicas especificas e os comprimidos desagregam-se em partes determinadas do intestino. Excepto essas situaçoes, não há razão nenhuma para deixar de prescrever um genérico quando disponivel.
O SNS é um monstro com muitas cabeças mas completamente acéfalo... e ninguém consegue colocar-lhe uma coleira para dominar o bicho... e porque há uma (mais uma vez conveniente) falta de informação, os utentes não reclamam os seus direitos e não usam a melhor arma que se pode ter: o poder de decisão sobre o próprio tratamento, o que aqui chamamos "patient empowerment".
Labels: medicamentos, saude
21 Comments:
Escandaloso.
A venalidade está patente. Congressos em países quentes, ofertas de canetas de plástico tudo serve para comprar o Juramento de Hipócrates.
Não quero ser ingrato com aqueles que a mim aos meus muito me valeram; esses pouco juram mas muito fazem.
Ola Erecteu!
Eu critico mais o sistema do que os profissionais. Se o sistema o permite, qorque nao apreveitar e chupar-lhe as tetas? Em Portugal todos sabemos como é... cada um por si. E toda a gente que pode retirar vantagens de qualquer buraco na lei fá-lo.
É por isso que se devia reestruturar o SNS.
Aqui os medicos de familia NAO PODEM PRESCREVER o que querem mas sim os que as autoridades locais de saude permitem. Estas elaboram um formulario local e os médicos têm de o seguir senao sofrem sansoes. É urgente fazer algo do género em portugal... se os Lobbies deixarem!
Bjicos
Completamente de acordo.
Triste e lamentável o nosso sistema de saúde.
A minha mãe precisa de ser operada a uma catarata e pediu ao Médico de Família um P1 para ir ao Hospital de Stº António no Porto, que dizem ser bom nesta área...a médica não lho passou, e mandou-a aproveitar o seguro de saúde que tinha, pois este era para estes casos...
Ou seja ... quem não tiver dinheiro f***-se!!!!
Lá terá que ser operada em Coimbra.
E quanto a mim ... receitaram-me DUPHASTON a 300,00€ cada caixa, que comparticipado fica a 200 e pico... cada tratamento precisa de +/- 5 a 8 caixas...tás a ver???!!!
Quem não tiver dinheiro não se cura, nem pode tratar-se convenientemente...muito menos pode esccolher o local e quem quer que o trate.
F***-se para eles...
Um beijinho
Ola Amiga,
Aqui o sitema de comparticipacao é diferente.
Há um certo numero de doentes que estao isentos de pagar:
- menores de 16 anos,
- 16-18 anos se a estudar Full-time
- Estudantes universitarios podem reclamar o dinheiro de volta
- maiores de 65 anos
- Gravidas
- desempregados
Todas as outras pessoas pagam £6.65 por cada medicamento prescrito. Ou seja, mesmo que o preço real do medicamento seja £100 ou £200 ou onque for, o utente paga apenas £6.65. Se a receita tiver 3 medicamentos diferentes, o utente paga 3x £6.60. Mesmo que o utento tome duas doses diferentes de um mesmo medicamento, por exemplo 10mg e 20mg para perfazer uma dose de 30mg, apenas paga £6.65 pelos dois.
Muito melhor, acho eu...
Bjicos
Porque nós portugueses, ainda achamos que o médico é Deus e se o Srº Drº diz, é para se fazer. Eu como sou do mais refilão que existe quando me receitaram o mesmo que à sua mãe perguntei logo se não havia genérico. A rsposta foi que não fazia o mesmo efeito e tive de dizer ao médico privado, que queria começar pelo genérico e se não fizesse efeito logo lhe diria.
Mas isto é complicado, porque nas Caixas e Hospitais sei de médicos que dizem logo- "aqui o médico sou eu"
Beijinho
Desculpa Rosário, resolvi que era tua mãe, não sei porquê.
Ola Marta,
Assim mesmo é que tem que ser, os utentes tem de começar a exigir participar mais nas decisoes acerca da sua saude.
Os genéricos têm exactamente o mesmo efeito que os outros medicamentos ou entao a sua producao nao podera ser aprovada. Se um médico diz o contrário ou tem interesses escusos ou é ignorante. Da próxima vez tenta pedir-lhe que te disponibilize os estudos que sustentam as suas afirmacoes (evidence-based medicine). Aposto que vai gaguejar!
Ah, esqueci-me de dizer, aqui os medicametnos contraceptivos também sao gratis. E o primeiro tratamento da infertilidade também.
bjicos
Boa tarde Rosarico,
Posto isto e os diversos comentários que aqui foram feitos nem vale a pena dizer quanto deixo na farmácia pelos meus medicamentos para a bronquite, (eu nunca pensei que repirar fosse tão caro), que como é já do teu conhecimento, sou obrigada a tomar.
Aqui não exite nenhum SNS. Existem LOBBIES.
Já agora tenta descobrir que tipo de prendas os laboratórios em questão oferecem por percentagem de receitas prescritas. Isto mera curiosidade.
BeijInha Grande e outra em Mámãe Joaquina
:)
Bom dia Inha,
Aqui para evitar esses lobbies, os contratos dos profissionais (incluindo os dos farmaceuticos) proibem claramente receber "prendas" acima de determinado valor, e outros beneficios. É tembém obrigatorio declarar se se vai a um evento cientifico patrocinado por uma laboratorio.
Certa vez foi-me ofercida a ida a Suiça para dois dias de estudo sobre um medicamento para o cancro. Depois de cem telefonemas, para a Ordem (Royal Pharmaceutical society), para a comissao de ética, para o PCT, para os meus chefes, para o diabo, sem me ser dada uma resposta conclusiva se seria ético ir, recusei o convite...
Bjicos
Olá Rosário.
Independentemente da minha opinião pessoal sobre genéricos, e das experiências que tenho ouvido sobre este ou aquele genérico comparativamente com o de marca, parece-me que o essencial é haver comunicação entre o médico e o doente. Explicar essas experiências, mas sobretudo saber se o doente pode ou não comprar o de marca. Se não puder, independentemente de se gostar ou não do genérico, antes esse que nenhum. Para alguma coisa serve o prontuário, é só abrir e comparar preços. Felizmente tenho visto esta comunicação acontecer bastantes vezes. E foi a folheá-lo que me percebi que por exemplo o alopurinol tem medicamentos de marca mais baratos que os genéricos do mesmo (ao contrário do que me tinham dito na farmácia :) )
Há bons e maus profissionais em todo o lado, e por isso mesmo é injusto partir para generalizações...
Bjos
Rute
Querida Rute,
Estou completamente de acordo, por isso é que critico o sistema e não os profissionais (embora no caso da minha mãe o faça. A senhora tem como rendimentos a pensão mínima e esta vai-se quase toda em medicamentos). Como dizes há-os bons e maus em todas as áreas e a medicina não é excepção.
Bjicos
Muito esclarecedor este seu post. Estou consigo na indignacao e na re-estrururacao do SNS.
Por experiencia pessoal e familiar noto assutadoras assimetrias entre os grandes centros urbanos e as localidades em termos da prescricao de genericos (generalizada nos primeiros, escassa nos ultimos.)
Tenha a tal conversa civilizada com o medico de familia. Pela mae Joaquina. Por outras maes. Por todos.
Jinhos.
Olá, Rosário!
A questão dos genéricos parece não estar a ter o impacto desejado neste nosso Portugal, continuamos a pagar as marcas e a ter muito pouca informação.
Quanto ao Astérix em mirandês, penso já ter lido algures que se prepara um novo volume. Há aproximadamente um ano tive o privilégio de receber das mãos de um amigo, um dos 4000 exemplares da primeira tradução.
Não há férias que não passe por MIranda e, sempre que posso, mostro a cidade aos amigos que não conhecem... foi o que aconteceu no último fim-de-semana.
B'jicos
Um Monstro do orçamento doméstico da maioria da população mais envelhecida!
Bjks da Matilde e Cª!
há tempos tb me receitaram esses tais medicamentos para o colesterol e deixei ma farmácia 75Euros depois da dita comparticipação. Tinha o colesterol a 390! Tomei as pastilhas durante uma semana e fui parar à urgencia do Hospital; qd cheguei a casa confirmei q todos os sintomas vinham descritos nas contra indicações do medicamento. Nunca mais os tomei. Na Ervanária comprei um chá para o colesterol por 5 ou 6 € a que junto sumo de limão. Como todas as cerejas que é possivel e aproveito a melancia, que é excelente para tonificar as veias e nunca mais fui àquela médica de familia...
Quanto aos genéricos , acho que ´´e prática corrente não receitar para dar mais lucro ao laboratório e à farmácia e é impressionante verificar que aqueles medicamentos que compramos regularmente têm sempre aumentos muito superiores à taxa de einflação!!
Não admira pois que a mãe Joaquina lhe suba o colesterol !
também há outro aspecto curioso - medicamentos de uso veterinário e de uso humano. O meu cão necessitou tomar um medicamento dificil de encontrar e que custava para cima de 30€, Depois de ter corrido diversas farmácias, foi-me dito que havia exactamente a mesma fórmula feita pelo mesmo laborat´rio, para uso humano e com o dobro da quantidade ao preço de 20 €!O veterinário desconhecia e ficou espantado, tal como eu.
Felizmente ainda não tenho tido necessidade de ir muitas vezes ao médico, nem de comprar medicamentos, mas a pouca experiência que tenho diz-me que se precisasse isso me iria dar cabo dos nervos e, por conseguinte ficar ainda mais doente. ;P
Beijitos.
Olá Rosário
É a primeira vez que vejo este blog (e para ser sincera nem me lembro bem como vim cá parar). Mas sobre um tema destes não posso deixar de me expressar:
de facto o mal é mais do sistema do que dos profissionais. Mas embora digam (e com razão) que quando não se prescreve o genérico quem arrecada o dinheiro é a farmácia, também é verdade que o farmacêutico de oficina leva a machadada por todos os lados. Se substitui a prescrição por um genérico é porque anda armado em médico, se dá o medicamento original é porque quer aumentar os lucros. No meio disto tudo temos uma classe médica com zero conhecimento dos conceitos mais básicos de farmacoeconomia, que toma decisões de prescrição com base nos lindos olhos (ou nas lindas pernas, em alguns casos) do DIM que por lá aparece regularmente. Acho que hoje o problema já não está tanto nas ofertas dos laboratórios, porque a esse nível o sistema está muito mais regulamentado e a fiscalização tem sido apertada. Continuamos é a ter um excesso de proteccionismo da classe médica que lhes permite bloquear, por exemplo, a prescrição obrigatória de genéricos em ambulatório. O que é tanto mais ridículo quanto nós sabemos que nos hospitais os doentes tomam genéricos regularmente, sem que o médico sequer saiba, na maior parte das vezes, qual o laboratório produtor (e mesmo assim não se ouvem queixas por falta de efeito terapêutico - pelo menos não mais que o normal).
Andamos todos numa sangria desatada com tantas alterações ao sector - OTCs nos supermercados, farmácias sem exclusividade de propriedade, retirada de comparticipações, etc - quando na verdade isso nem sequer poupa dinheiro ao Estado. Não passam de manobras de cosmética. É necessário termos noção de que 1) os medicamentos absorvem cerca de 20% do total da despesa em saúde. Podem até pôr os laboratórios a fazer o pino para baixarem os preços para metade mas convençam-se DE UMA VEZ POR TODAS que não é só actuando no mercado farmacêutico que resolvem o buraco da saúde. 2) grande parte dos nossos médicos, particularmente GPs, são ferozmente ignorantes no que diz respeito a principios basicos da terapêutica farmacológica. Basta analisar os dados de prescrição de antibióticos neste país. Como é que se convence o médico a prescrever um genérico se acha por bem prescrever a última geração de antibiótico que lhe despejaram no consultório (sem genérico, portanto) para tratar uma simples amigdalite?
Defendo que a prescrição, embora seja um acto médico, é um acto que o Estado deve poder orientar e controlar, pois é exactamente o Estado que o vai pagar. E os recursos são limitados, por isso mais vale abrirmos os olhos e encararmos o problema antes que se torne maior. Prefiro um sistema de formulário nacional obrigatório do que um sistema como o Holandês, em que os médicos têm plafonds de prescrição.
Bom, o sistema inglês também não é perfeito (e tem sido mesmo muito criticado) mas ainda assim parece-me um pouco mais racional. Sempre têm o NICE que é uma instituição independente.
Beijos
Minha querida amiga: nunca houve a revolução que de facto se impunha: a de mudar as mentalidades. Sem isto, somos uma eterna pescada de rabo na boca. Tudo começa e caba aí.
Beijos
Bom dia!
JJ,
Ah pois! E acrescente-se que aqui o medicamento de que falo é de venda livre!!!!
Deep,
A falta de informacao tem um proposito... e esta a ter efeito.
Também tenho um dos 4000 exemplares do Asterix em mirandes e mal posso esperar pelo seguinte!
Miguel,
Tens toda a razao, as reformas em Portugal sao falsas reformas, uma vez que toda a gente sabe que os idosos sao a faixa etária que mais consome e que depende de medicamenos/polifarmacia. O estado da para voltar a tirar...
Greentea,
Os medicamentos deviam ser o ultimo recurso em termos de tratamento. Em promeiro lugar vêm sempre outras medidas tais como modificacao do estilo de vida e dieta. So depois dessas medidas falharem é que se devia tentar os medicamentos.
O grande problema dos medicamentos é que nenhum é livre de efeitos secundarios e é muito facil entrar numa espiral de polifarmácia em que um medicamento é adicionado para tratar um efeito secundario do anterior.
Amadis,
bjicos!!!!!
Pianola,
Eu também nao... por isso nessa altura vou estar a trabalhar... e de prevencao.
Xica,
Pois é... e ainda por cima alguns medicamentos sao mesmo filhos da puta, com efeitos secundarios de fugir... esperemos que nunca precisemos deles...
Caracol,
Excelente analise! Acho que as mudancas no sector farmaceutico sao necessarias e correctas mas concordo que nao terao um grande impacto na farmacoeconomia. No sector medico nao havera mudancas por muito tempo uma vez que o lobby é muito poderoso.
A prescricao de antibioticos em Portugal é absolutamtne criminosa e suicida. Ja aqui falei disso tambem. Aqui no hospital em que trabalho, os medocos so podem prescrever livremente cerca de 10 antibioticos. Todos os outros so sao fornecidos de forem previamente autorizados pelo microbiologista.
O sistema aqui nao é perfeito, mas é de longe melhor que o portugues.
Unicus,
Toda a razao, como com outros problemas no nosso pais este so sera resolvido com uma revolucao cultural e social.
bjicos!!!!
Há muitos interesses em jogo.
Infelizmente o doente está em último, quando devia ser o centro do sistema.
Um abraço.
Impressoes
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