As festas e os namoros
(Picasso)
À noite começavam as festividades civis. Normalmente um ou dois conjuntos abrilhantavam o arraial. A aldeia enchia-se de forasteiros, principalmente gente nova em busca de animação. Aliás, durante todo mês a mocidade, principalmente os rapazes, com as raparigas em mente, percorria as várias aldeias nos dias da respectiva festa.
Para as raparigas era mais difícil essa vida de boémia constante. Eventualmente, num ou outro dia, na festa de uma das aldeias mais próximas e com companhia da confiança dos pais, estes lá consentiam na ida ao arraial fora da aldeia, onde eles não podiam controlar com os próprios olhos todos os movimentos das pequenas. No arraial da aldeia colocavam-se estrategicamente para fiscalizar quem se aproximava não só da própria prol mas também de todas as outras. Se alguém se atrevia a algo não previsto na cartilha comportamental altamente restringente, a aldeia comentava no dia seguinte e em muitas das noites seguintes de Inverno, quando os serões eram largos e davam azo a que se fossem rebuscar assuntos interessantes para entreter as horas à lareira.
Os enamoramentos e os namoros eram muito difíceis. Ainda que se quisesse manter secreta uma paixoneta, um simples passeio ou conversa a sós era considerado um assunto muito sério, e escrutinado por dezenas de ávidos olhos. A maneira de contornar esse incómodo era sair em grupos, ir ate ao café. O mais popular para esse efeito era o Café do Ti Chico, o “Piroca”, situado na periferia, na estrada de Vimioso e Santulhão. Os parezinhos iam ficando para trás, enquanto que o resto do grupo, cúmplice, se afastava apenas o suficiente para que as palavras segredadas ficassem somente entre os apaixonados. Os postes de iluminação mergulhavam o topo nas copas frondosas das cerejeiras e algum mais afoito que se atrevesse a espalhar mais luz do que aconselhado amanhecia invariável e convenientemente com as luzes fundidas.
Labels: Carção, crónicas da aldeia
7 Comments:
Bom dia Frog!
... pois, provavelmente! Eu era muito cachopa mas ia com o meu irmao e a minha irma ao café. Nao creio que me apercebesse de tudo o que se passava!
Espero que tenhas gostado da festa! Eu, como no ano passado nao tive oportunidade de a aproveitar bem , este ano achei-a deliciosa.
Bjico
Velhos tempo, Tia Rosario!
Mais ingénuos, mais puros!
Bjks da Matilde
que belos tempos
saudades desses tempos...
Eh pa! Devia cá dar uma pika! :-)
seriam muito afoitos esses mirandeses de carção... ainda há dias ouvi um cunhado meu a contar que lá na aldeia e noutras perto, as raparigas pouco saiam para o baile, não havendo pois com quem dançar. Então, faziam o baile da rosa - o rapaz levava a rosa na mão e tinha de pagar para dançar e elas faziam-se rogadas - e eles iam a pé por montes e vales, quais carros ou motas ,...
Que bem retrataste esses tempos!!! Nao sei quem se refere ao lameiro, mas está muito bem identificado.
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