Friday, June 02, 2006

AIDS


O ano de 2006 representa dois marcos importantes na luta contra um dos grandes desafios médicos da nossa era, a AIDS. Por um lado, faz este ano 25 anos desde que a epidemia surgiu e por outro, comemoram-se o décimo aniversário do aparecimento da terapia antiretroviral, muitas vezes referido como “AIDS cocktail”.
Em 1995, a taxa de mortalidade dos doentes infectados era extremamente alta, sendo o diagnóstico da doença considerado uma autentica sentença de morte. Além da doença em si, a infecção pelo HIV tornava os doentes mais susceptiveis a outras infecçoes por outros microorganismos dificeis de tratar tais como o cytomegalovirus, mycobacterium, cryptosporidium, além de outras doenças como linfoma, cujo tratamento era dificultado ainda mais pela debilidade geral do organismo.
Por essa altura, nenhum dos medicamentos disponiveis para tratar estes doentes parecia resultar bem ou por longos periodos. O inibidor das proteases da Merck (chamado posteriormente de indinavir) não parecia promissor como agente unico; o ritonavir era um liquido com um sabor horrivel que muitos não conseguiam tolerar; e muitos dos doentes a tomar sequinavir há meses não melhoravam.
Finalmente, em 1996 na Conferencia sobre Retrovirus e Infeccoes Oportunistas, algumas noticias boas. O ritonavor da Abbott, embora dificil de tomar, parecia ter causado uma diminuicao de 50% na mortalidade quando usado em combinação com 2 nucleósidos. Havia também resultados promissorers em estudos de 16 semanas do saquinavir em combinação com a zidovudina (AZT) em doentes que nunca tinham tomado medicação. E também resultados dramáticos em estudos de 24 semanas para o indinavir em combinação com AZT e lamivudina.
Face a estes resultados, a FDA aprovou o ritonavir em Febreiro de 1996 e logo a seguir o indinavir. Nos ultimos 10 anos, a HAART (highly active antiretroviral therapy) tranformou a vida das pessoas infectadas.
No lado menos positivo, os regimes eram constituidos por dezenas de comprimidos, cada qual acompanhado de restriçoes em termos de dieta e de horário. Além disso, os efeitos secundários, vomitos, anemia, etc, implicavam a toma de mais medicamentos para o seu controlo. A lipodistrofia, acompanhada das modificaçoes corporais caracteristicas (perda de tecido nos braços, pernas e rosto, aumento da cintura, depósitos de gordura nas costas e aumento dos seios) deixava os doentes com formas indesejáveis. Além destes, verificava-se ainda aumento dos lipidos no sangue, toxicidade mitocondrial e neuropatia periferica, entre outros.
Devido a todos estes efeitos secundários e aos horarios complicados e exigentes das tomas, a aderencia a terapia depressa se tornou um grande problema entre os doentes, aumentando as resistencias a todos os medicamentos disponiveis.
A HAART de hoje é dramaticamente diferente da existente há 10 anos. Temos 25 medicamentos antiretrovirais e talvez surjam mais dois durante este ano. Muitos destes novos agentes ajudaram a simplificar os regimes. Medicamentos tomados uma vez ao dia, tal como o efavirenz, revolucionaram a capacidade de os doentes aderirem a medicação.Novas combinaçoes “uma vez ao dia”, tal como emtricitabina+tenofovir+lamivodina+abacavir, implicam apenas a toma de dois comprimidos ao dia. Ainda este ano, é provavel que surja a primeira formulação que implica a toma de apenas um comprimido ao dia (tenofovir+emtricitabina+efavirenz)!
Os novos antiretrovirais são tambm desenvolvidos com um perfil de efeitos secundários mais positivo, tornando a vida dos doentes mais fácil. Há evidencia que alguns dos nucleósidos e inibidores das proteases provocam possivelmente menos anormalidades lipidicas e metabólicas. Além disso, os novos antiretrovirais tem uma barreira de reistencia mais elevada, incluindo os novos enfuvirtide e tipranavir.
Nos próximos 5-10 anos veremos novos desenvolvimentos no tratamento do HIV. Cerca de vinte agentes estao em fase de estudo clinico, há novos agents em desenvolvimento a partir das classes ja existents, e ainda novas classes, incluindo integrases e inibidores da maturação.
O prognostico para a prevenção do HIV é muito menos positiva. A vacina é apenas uma esperança distante, talvez nem surja durante esta geração. Em muitos paises, incluindo Portugal e muitos paises do terceiro mundo, tem-se registado um aumento de casos. Muito há ainda a fazer em termos de prevenção, especialmente no combate as crenças absurdas (reforçadas por determinadas instituicoes religiosas…) de que o preservativo nao previne a tranmissao…

9 Comments:

Blogger Inha said...

Isto sim, é verdadeiro serviço público! Obrigada por divulgares estes textos.

Deixo-te uma beijInha repenicada e desejos de um excelente fim de semana!:)

1:29 PM  
Blogger Barão da Tróia II said...

Excelente, pena que por cá tão pouca gente saiba ler.
bom fim de semana

3:50 PM  
Blogger Pé de Salsa said...

Este é um "local" a ser visitado diariamente. Aprendemos sempre alguma coisa para além de nos dares algumas novidades antes das mesmas serem por cá publicadas.

Só tenho que te agradecer pela disponibilidade,interesse e grande qualidade que colocas nos posts com que nos tens brindado e que sempre nos enriquecem.

Bjicos
Pé de Salsa

5:05 PM  
Blogger Tom said...

O HIV já me levou alguns amigos, e a luta contra o vírus é papel de todos na sociedade, não só dos homossexuais, e profissionais do sexo. A igreja tambem deveria orientar sobre os riscos e a prevenção do vírus! O governo deveria ser mais firme nas campanhas e a educação deveria começar nas escolas.
O preconceito deveria ser combatido desde criança.
Parabens pela abordagem de um tema tão importante.
Mil beijos e um ótimo fim de semana!
Tom

8:44 PM  
Blogger António Conceição said...

Bem, depois de ler este texto, vou deixar de me queixar por ter que tomar o "letter" uma vez ao dia.

11:40 AM  
Blogger croqui said...

parabéns pelo blog,
acabei de conhecer e gostei muito!

4:54 PM  
Anonymous Anonymous said...

Olá amiga tudo bem? Aue bom te rever no meu cantinho. AIDS é um assunto que deveria ser sempre abordado (tenha saido um pouco da midia) Mesmo com os retrovirais é muito dificil viver com a AIDS tenho amigos com são soro positivos e vejo de perto o seu problema. Tem que prevenir, fico assustada com a falta de atenção dos casais que tendem a ainda a não se previnir. Beijos

6:19 PM  
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