Tuesday, November 15, 2005

O azeite

Foto de Platero Aqui
Pelo Inverno dentro, ainda a azeitona exigia os cuidados e um trabalho árduo. Recolhiam-se por entre a neve e a geada, com os dedos semi-mortos, os homens empoleirados nos ramos a batê-los com uma vara forte para atirar os preciosos frutos ao chão. As mulheres embrulhadas em xailes, hirtas do cansaço e do gelo que se aninhavam nos ossos, apanhavam da terra as azeitonas. Se o terreno o permitisse (muitas árvores erguiam-se em falésias, especialmente ao longo do rio) estendiam-se mantas enormes para recolher os frutos. Depois apenas era necessário separar as folhas que, varadas vigorosamente nos ramos, tombabam imoladas também, em grande quantidade.
Os dias da apanha da azeitona eram dias difíceis, começavam nos campos mal a claridade o permitia e só terminavam muito depois do dia ter acabado. O dia todo era passado no campo. Ao meio-dia fazia-se uma fogueira para aquecer o corpo, estendiam-se umas toalhas no chão e almoçava-se. O almoço era invariavelmente constituído por pão, sardinhas assadas, bacalhau frito, presunto, chouriço, vinho e água.
As pessoas e os animais regressavam quando a ausência de luz tornava impossível o trabalho. No entanto, depois do regresso a casa, como sempre, havia muito que fazer, descarregar e limpar a azeitona, acondicioná-la convenientemente, tratar dos animais.
Normalmente em cada aldeia existia um lagar de azeite. As pessoas calculavam mais ou menos o tempo que demorariam a apanhar toda a azeitona e marcavam uma data para fazer o azeite. No dia marcado transportavam toda a azeitona para o lagar em carroças ou no tractor contratado par ao efeito se a quantidade assim o justificasse.
A apanha da azeitona estendia-se por vários dias. Esta não podia ser mantida nas sacas em que se transportavam dos campos para casa. Se tal acontecesse os frutos apodreciam, fermentavam e tornava-se impróprios para a extracção do precioso líquido. Em casa a azeitona era mantida em montes, remexida periodicamente para evitar que os frutos do fundo ficassem totalmente inutilizados. No dia de fazer o azeite era necessário ou colocá-la de novo em sacas ou carregá-la para o tractor. Eram dias de extrema exaustão, na posse do inestimável líquido era ainda necessário transportá-lo para casa e acondicioná-lo convenientemente para se manter durante o resto do ano.
Antes da instalação da luz eléctrica e em muitas casas ainda o azeite era usado para a iluminação através de candeias. Além disso era também utilizado nas mais variadas mezinhas, em unguentos para diversas afecções da pele, e pelas bruxas na preparação de diversos preparados e para tirar o quebranto.

10 Comments:

Blogger TR said...

O nosso azeite é o melghor do Mundo!!! bem lembrado!!

12:53 PM  
Anonymous Anonymous said...

Estou visitando o seu blog pela primeira vez e adorei. Venho através do blog entre amigos.
Venha me conhecer;
Bjos

1:52 PM  
Anonymous Anonymous said...

Vim atráves do Entre Amigos conhecer o seu blog, muito legal o seu cantinho, adoro azeite,azeitonas, muito bom de se saborear, e melhor ainda agora conhecendo melhor pelo seu post.
Beijão !

4:21 PM  
Blogger Maria Heli said...

delicioso, o texto!

acho que tens lá algo para ti.
bjo ;)

4:22 PM  
Anonymous Anonymous said...

Bela memória. Como é habitual.

5:47 PM  
Anonymous Anonymous said...

eu adoro azeiteee entao molhadinho no pao tipo molho ai jesus

6:04 PM  
Anonymous Anonymous said...

Olá Amiga!
Seu cantinho é muito legal!
Passei aqui por intermédio do Blog " Entre Amigos" seu blog, adoro azeite,azeitonas, muito bom mesmo.
Assim que der eu volto para ver as novidades!

Beijos!
Wivian

7:19 PM  
Anonymous Anonymous said...

Olá Rosario!
Vim conhecer seu blog através do "Entre Amigos" e fiquei encantada com seu cantinho especial. Voltarei outras vezes!

Beijos, Vilma

Visite meu blog:
http://meuautoretrato.blogger.com.br

12:57 AM  
Anonymous Anonymous said...

Disseste bem do modo de vida de uma comunidade que eu não conheço. Belo texto a nos transportar para outra realidade. Grato por esse momento. Um abraço.

3:10 PM  
Blogger deep said...

senti o gelo quebrar sob os pés, o vento galgar as enconstas frias da serra do açor e o fumo da madeira queimada impregnado de aromas fortes enquanto olhava os salpicos pretos da azeitona sobre os fardos estendidos como se vassalos fossem em torno de um tronco de oliveira...
obrigado...

1:21 PM  

Impressoes

<< Home