Thursday, September 22, 2005

Talidomida- de velha inimiga a nova aliada

A talidomida foi sintetizada pela primeira vez na Alemanha em 1953 e foi comercializada pela companhia farmacêutica Grünenthal de 1957 a 1961 principalmente naquele país e no Reino Unido. Durante o periodo em que foi comercializada, esteve disponível em cerca de cinquenta paises sob diferentes nomes comerciais (Talimol, Kevadon, Nibrol, Sedimide, Quietoplex, Contergan, Neurosedyn, etc.).
Devido às suas actividades sedativas e hipnóticas, bem como ao seu perfil farmacológico aparentemente positivo (efeito rápido, ausência de sedação matinal) foi amplamente usada como indutor do sono. Quando usado por mulheres grávidas a talidomida revelou um efeito positivo na náusea matinal e começou a ser prescrita como anti-emético durante a gestação.
Nos anos 60-61 foi associada ao trágico nascimento de crianças com severas malformações nos membros, quando usada por mães que haviam tomado o medicamento durante o primeiro trimestre de gestação. As principais malformações resultantes eram a amelia (ausência total de um ou mais membros) e a focomelia (ausência dos segmentos médio e proximal das extremidades). Cerca de 45000 fetos foram afectados pelo medicamento e destes, cerca de 12000 resultaram em nascituros com malformações, dos quais apenas 8000 sobreviveram após o primeiro ano de vida.
Este nefasto efeito da talidomida deve-se à sua capacidade de inibir a angioneogénese (formação de vasos sanguíneos) e de interferir com a repliacção do DNA.
A talidomida foi então retirada do mercado e votada ao esqueciemento durante décadas.
No entanto, na última década verificou-se um interesse neste medicamento devido precisamente às suas propriedades imunomodulatórias e anti-neogénicas e o potencial efeito positivo no tratamento de alguns tipos de cancro, nomedamente os mielomas. Muitos cientistas consideram a talidomida o principal agente anti-mieloma surgido em 30 anos.
O preciso mecanismo de acção da talidomida como agente anti-neoplásico não é inteiramente conhecido, no entanto, ela parece ter numerosas acções, incluindo a capacidade de inibir o crescimento e a sobrevivência das células do mieloma de diversas maneiras além de ibibir o crescimento de novos vasos sanguíneos, necessários á sobrevivência de qualquer tecido. Eis alguns dos efeitos deste medicamento no tratamento dos mielomas:
- Inibição da angioneogénese
- Inibição do crescimento e sobrevivência das células estaminais, células tumurais e células na medula óssea
- Alteração da expressão de moléculas de adesão na superfície das células tumurais e células estaminias da medula óssea (estas provocam a libertação de citicinas que induzem o crescimento das células tumurais)
- Estimulação dos Linfócitos-T, que atacam as células tumurais directamente.
Actualmente a talidomida continua a ser estudada em numerosos ensaios clínicos envolvendo combinações desta com outros medicamentos no tratamento quer de mielomas quer de tumores sólidos e hematológicos.

A talidomida tem sido usada com sucesso no tratamento de numerosas outras doenças nomeadamente o Erytema Nodosum Leprosum (lepra), para o qual foi licenciada pela primeira vez em 1998 pela FDA (Food an Drud Administration); outras afecções dermatológicas: lupus erytematoso discoide, pyoderma gangrenosum, eritema multiforme; tratamento de ulceras realcionadas com o HIV e doença de Behçet, etc.

A investigação da talidomida e dos seus numerosos mecanismos de acção continuará por muito tempo. Espera-se que da extensa investigação com este medicamento e os seus promissores análogos estruturais, possa ser sintetizado um análogo que possua os positivos efeitos terapêuticos da talidomida sem os seus trágicos efeitos secundários.

No caso da talidomida pode bem dizer-se... de velha inimiga a nova aliada!

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

olá rosario.
gostei mesmo da tua visita lá no meu blogue, Olha porque é que não apareces mais vezes pra irmos assim como que beber um copo juntos? aqui o teu espaço também tá fixe podes crer que vou voltar de vez em quando. Xau.

9:46 PM  
Anonymous Anonymous said...

É, aprende-se na blogosfera.
Só conhecia (de conhecimento geral, não sou destas áreas) a talidomida inimiga.
Mas presumo que este tipo de "história" se passa com N fármacos e substâncias. Ou não?

10:09 PM  
Blogger Rosario Andrade said...

Ola!
Sim, por vezes acontece... foi precisamente assim que o Sildenafil (Viagra) surgiu. O sildenafil foi desenvolvido para a tensao arterial. no entanto, durante os ensaios clinicos o medicamento mostrou-se decepcionante, com efeitos secundarios intoleraveis a doentes do coracao. Quando a companhia enterrompeu o estudo e os investigadores pediram aos doentes para devolverem o medicamento eles recusaram-se porque tinham notado um efeito secundario muito agradável...

10:29 PM  

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