Crianças
Em resposta a um desafio lançado pelo bom Alquimista porque é muito importante e porque é responsabilidade de todos nós...
Há vinte anos...
Eram putos reguilas e atrevidos, de modos rudes, endurecidos por todo o tipo de privações, a pele curtida pelo sol e pelo frio. Usavam uma linguagem vernácula e agressiva, com uma terminologia soes, trazida de casa e das ruas, e cujo significado não podiam perceber. Muitos nasciam como coelhos selvagens, eram feitos e paridos pelos montes, desmamados à pressa e entregues aos cuidados do acaso. Conheciam os caminhos dos montes, as tocas dos lobos, as árvores e os penedos onde os pássaros nidificavam e os seus chamamentos, sabiam de cor os locais do rio a evitar. Sabiam como caçar coelhos bravos e perdizes, usavam fisgas e espingardas de pressão de ar para matar pardais, no rio pescavam peixes e caranguejos.
Logo que possível eram-lhes entregues responsabilidades e trabalhos de adultos, tratar dos animais, levar as ovelhas, as cabras e as vacas para os montes, apascentá-los antes da escola, ir recolhê-los depois das aulas, escavar a terra, arar. Tinham olhos agudos entalados em rostos angulosos, as narinas sempre muito encieiradas e obstruídas por um ranho esverdeado e muito espesso que limpavam à manga da camisola. Envolviam-se frequentemente em rixas provocadas por disse que disse e por complicados jogos de aferição de forças, comandados pelo instinto primordial da sobrevivência do mais apto.
Quais eram os nossos sonhos? Pertencíamos a uma geração perdida entre um passado marcado por misérias e um isolamento agreste e o vislumbre de outras realidades e de outros horizontes. Sonhar era um luxo que não nos era permitido. Qualquer demonstração de sonhos que se projectassem para além da realidade que era a nossa era esmagada com uma ferocidade acintosa e calcificada dos mais velhos. Era talvez uma espécie de protecção, um muro construído pelas próprias frustrações e pela constatação amarga que não se era mais do que pó que a terra dominava. E que qualquer tentativa de ter uma vida melhor era abrasada pela violência da realidade. Qual era o nosso futuro?...
Hoje, no século XXI continua a ser verdade, algures num outro ponto qualquer do globo. Fome, maus tratos, violência, abuso, exploração são realidades presentes nas vidas de inúmeras crianças. Apenas com o equivalente a três ou quatro cafés por mês, a UNICEF pode fazer uma criança sorrir (aqui é possível o donativo ser retirado directamente do salário, e fazendo a entidade empregadora dar parte do montante! eheheh!). Pensar no assunto apenas não chega... ajude hoje uma criança. Pelo direito a existir. Pelo direito a sorrir. Pelo direito a sonhar!
Logo que possível eram-lhes entregues responsabilidades e trabalhos de adultos, tratar dos animais, levar as ovelhas, as cabras e as vacas para os montes, apascentá-los antes da escola, ir recolhê-los depois das aulas, escavar a terra, arar. Tinham olhos agudos entalados em rostos angulosos, as narinas sempre muito encieiradas e obstruídas por um ranho esverdeado e muito espesso que limpavam à manga da camisola. Envolviam-se frequentemente em rixas provocadas por disse que disse e por complicados jogos de aferição de forças, comandados pelo instinto primordial da sobrevivência do mais apto.
Quais eram os nossos sonhos? Pertencíamos a uma geração perdida entre um passado marcado por misérias e um isolamento agreste e o vislumbre de outras realidades e de outros horizontes. Sonhar era um luxo que não nos era permitido. Qualquer demonstração de sonhos que se projectassem para além da realidade que era a nossa era esmagada com uma ferocidade acintosa e calcificada dos mais velhos. Era talvez uma espécie de protecção, um muro construído pelas próprias frustrações e pela constatação amarga que não se era mais do que pó que a terra dominava. E que qualquer tentativa de ter uma vida melhor era abrasada pela violência da realidade. Qual era o nosso futuro?...
Hoje, no século XXI continua a ser verdade, algures num outro ponto qualquer do globo. Fome, maus tratos, violência, abuso, exploração são realidades presentes nas vidas de inúmeras crianças. Apenas com o equivalente a três ou quatro cafés por mês, a UNICEF pode fazer uma criança sorrir (aqui é possível o donativo ser retirado directamente do salário, e fazendo a entidade empregadora dar parte do montante! eheheh!). Pensar no assunto apenas não chega... ajude hoje uma criança. Pelo direito a existir. Pelo direito a sorrir. Pelo direito a sonhar!
Labels: crianças, crónicas da aldeia, unicef
16 Comments:
Bom dia Rosário!
O teu texto está muito bom e a imagem escolhida de acordo com "aquele tempo".
Claro que, nos dias de hoje, deparamo-nos frequentemente com a mesma imagem. Ainda não mudou.
Para além desses problemas de antigamente, muitas das crianças deparam-se com outros, marcantes, que muitas vezes os traumatizam para toda a vida.
Nunca é demais chamar a atenção para tanta desumanidade.
Parabéns pelo texto. Escreves muito bem.
Um bjico ancho.
(P.S. - Se ainda não viste, logo que possas abre o teu e-mail).
Excelente post o teu parabéns.
Belissimo pedido de auxilio, texto Fantastico e sugestão de donativo muito imaginativa.
JMC
....é! de facto é mesmo preciso contribuir, palavras são muito bonitas e eu que até gosto muito delas, mas não enchem barrigas esfomeadas, nem dão guarida a nem protecção a essas crianças, na realidade muita gente fala disso e se manifesta e diz que ajuda, mas na realidade fazem ZERO!!!!.........
Beijinhos
Sim,pelo sonho...é obrigatório contribuir.
Querida Rosário,
Assunto muito importante abordado hoje.
Tenho uma amiga que trabalho no Unicef e vejo de perto o trabalho dela. Realmente de muita importancia para as crianças mais necessitadas.
Um beijo carinhoso,
Tom
lindissimo o teu post, porque era assim em Portugal de ha vinte anos , como ainda o e em muitos locais
e por 2 ou 3 bicas , tanto que podia ser feito
Um beijo ancho, como tu dizes, como a minha mae dizia...
porque as realidades sao iguais em muitos lados, tomei a liberdade de reproduzir o teu texto no meu blog,
com um beijo para ti
Que texto tão lindo. Beijitos.
Precisamente por esta causa, hoje convido todos que puderem, para um lanche na minha sala de visitas. Tema: Solidariedade para com as crianças.
Pois...quem puder só vir amanhã, cá vos espero.
Estarei todo o fim de semana à vossa disposição, é por uma causa nobre.
Aparece. Abraços.
Bom de fim-de-semana, enquanto lá fora o vento sopra e a chuva cai, aqui a qualidade impera, neste interessante blogue.
Obrigada por também teres respondido ao apelo do alquimista. todos juntos seremos muitos, e as crianças merecem...
oLÁ
já me tinha inteirado deste assunto através da" vida" e depois do "alqimista", mas nunca é de mais recordar
Até outra visita
Bom domingo
Lindo texto com um tema tão actual.
Beijinhos e uma boa semana.
Se tivesse sido só há vinte anos...
beijinhos para ti e para a Rosário
Gostei... um dia destes faço o meu.... beijo...
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